Vape ilegal e Carnaval: o match que pode acabar mal

Olá Jornal
fevereiro20/ 2023

A folia do Carnaval pode acabar mal para quem busca no vape mais uma experiência divertida. A combinação já é comparada ao ‘boa noite cinderela’, velho conhecido dos festejos. Isso porque no Brasil os produtos não são regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, são vendidos ilegalmente sem procedência e segurança ao consumidor. Dessa forma, não é possível saber o que os dispositivos contém. Sem saber quais substâncias compõem os líquidos utilizados para ‘vapear’, o folião está exposto a riscos imensuráveis.

Conforme a farmacêutica, ex-diretora da Anvisa e consultora da BAT Brasil, Alessandra Bastos, as substâncias podem ser altamente tóxicas e oferecerem riscos graves. “Imagine num copo ou garrafa contendo um líquido desconhecido, sem rótulo ou qualquer informação sobre sua origem ou formulação. Agora imagine se essa mistura fosse ofertada para inalação. Não é muito arriscado? É exatamente isso que acontece com o cigarro eletrônico. No Brasil, o comércio é 100% ilegal, ou seja, tudo é desconhecido e sem qualquer tipo de controle”, explica.

Outra preocupação é com o crescente número de materiais nas redes que contêm ‘receitas’ caseiras para os chamados “juices”, que são os líquidos transformados em vapor. Ingredientes de cozinha como óleo de fritura (rico em vitamina E) e mel, por exemplo, são manipulados em vídeos como adequados para o “vape caseiro”. “Vale ressaltar que foi justamente a inalação de vitamina E de forma inadvertida que causou a crise Evali, nos Estados Unidos. Ou seja, o cenário dessa proibição – que não funciona – é assustador e perigoso em todos os sentidos”.

Após o Carnaval, Alessandra teme que as ocorrências envolvendo os produtos ilegais aumentem e prejudiquem a imagem dos mesmos, causando pavor e dificultando o entendimento sobre a regulamentação. “Essa especialmente é uma época do ano que me preocupa porque durante o período de descontração, a precaução pode diminuir. É sempre fundamental enfatizar que vaporizadores e produtos de tabaco aquecido, conhecidos popularmente como cigarros eletrônicos, não são isentos de riscos. No entanto, eles são efetivamente uma alternativa de menor risco para o adulto fumante que opta por migrar completamente para cigarros eletrônicos, quando regulamentados e comparados com o cigarro convencional, e como já demonstraram as autoridades sanitárias dos diversos países em que esses produtos foram adequadamente regulamentados e são comercializados sob a observância de uma regra clara”, avalia.

REGULAÇÃO

Dados da Pesquisa Ipec de 2021, apontam que há 2 milhões de consumidores adultos no Brasil, mesmo ainda proibidos pela Anvisa. Segundo a especialista, com uma regulamentação adequada define quem poderá fabricar, quais componentes são mais adequados para a produção, a composição dos líquidos, a quantidade de nicotina e até mesmo as regras aplicáveis e quais tipos de sistema que poderão ser comercializados. “É importante frisar que regulamentar não é liberar indiscriminadamente. Regulamentar é criar regras. Só com regras de fabricação, comércio, consumo, monitoramento e fiscalização será possível oferecer um produto seguro para o consumidor”. Atualmente, países como EUA, Canadá, Inglaterra, Europa, já regularam os produtos.

Além disso, a regulação significa comunicação adequada sobre os dispositivos. “A comunicação é essencial. E é exatamente pela falta de comunicação adequada que temos os dois extremos: alguns acham que o cigarro eletrônico é inócuo e outros acham que é pior que o cigarro convencional. A regulamentação trará a forma adequada das empresas, da sociedade, de todos se comunicarem sobre esses produtos”, conclui.

FOTO: Divulgação/Pixabay

Olá Jornal