Regulação e informação de dispositivos para fumar é urgente, afirma especialista em tabagismo

Olá Jornal
junho10/ 2022

Com mais de 20 anos de atuação em programas de cessação de tabagismo, Juliana Moysés vê na regulamentação de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) uma alternativa para pacientes que, ao longo dessa trajetória, viu desistirem do tratamento. Especialista em tabagismo e medicina terapia cognitivo comportamental, implantou diversos programas do tipo e identificou na prática alguns porquês do esforço em vão.
Falta de acolhimento, de informação e preconceito são os principais. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 60% querem parar de fumar mas que somente 30% da população vai ter acesso aos serviços apropriados para isso. “Mostra o quão longe a gente está de oferecer um serviço de qualidade”, avalia.
Juliana explica que dentro desses 30%, cerca de 35% no máximo conseguirão parar, isso para um bom tratamento de tabagismo. “É baixíssimo mesmo, as pessoas não ficam, não aderem se você não trabalhar comportamento, se você não entender que quando a gente fala em tabagismo a gente vai trabalhar outras dependências que não têm remédio, como a dependência psicológica e comportamental”.
É preciso tratar o paciente de forma individual, acolhendo suas particularidades e trabalhando com elas, segundo a especialista. “A gente precisa individualizar, precisa entender que existe o paciente dependente e não dependente. Entender que cada um tem um grau de motivação e que a gente pode trabalhar com qualquer paciente, mesmo quando ele não quer parar de fumar e é aí que entra a redução de danos”.

REDUÇÃO DE DANOS
Na visão de Juliana, a regulamentação dos DEFs auxiliaria na abordagem de pacientes que não querem ou não conseguem parar de fumar. Ela cita o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, que além de garantir a saúde como um direito de todos e dever do Estado, fala em redução de risco também como um direito garantido ao cidadão. “[…] garantias de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
“Eu acho que a necessidade de regulação e divulgação de informações é urgente. A gente encontra esses produtos em qualquer lugar por aí, então não é a falta de regulação que está bloqueando a entrada, acho que está dificultando para que se tenha um produto de qualidade e ao mesmo tempo que a gente possa falar disso de uma forma mais clara e aberta”.

INFORMAÇÃO
A psicóloga defende a divulgação de informações tanto ao cidadão, para que saiba quais as opções ele tem, como aos profissionais de saúde, que desconhecem a abordagem. “Além de tudo que o paciente já enfrenta para ter acesso a saúde, a gente lida muito com a informação e preconceito. Fumar hoje já é constrangedor e a falta de acolhimento só piora a adesão a qualquer tipo de tratamento. Às vezes a única coisa que ele vai ouvir de um profissional de saúde é só que ele precisa parar ou que ele não tentou o suficiente”, lamenta.

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