Em tempos de estiagem, o manejo adequado do solo é a inovação que pode salvar a lavoura contribuindo para a retenção de água. Tanto que o tema foi pauta do South Summit Brazil, o maior evento de inovação realizado em Porto Alegre, de 29 a 31 de março. O painel sobre o assunto colocou a atenção às boas práticas de conservação em patamar ainda mais relevante na construção de um ambiente antifrágil para a escassez, que se iguala à irrigação.
“É surpreendente que em áreas onde teve o correto manejo, está tendo uma produtividade equivalente a áreas sem o correto manejo mas com irrigação. Mas uma coisa não tem que excluir a outra. Você tem que somar as coisas vencedoras”, afirma o diretor de Crédito Banrisul, Osvaldo Lobo Pires, um dos painelistas. Ele refere-se aos bons resultados do programa Operação 365 desenvolvido em parceria com instituições para estimular a qualidade do solo utilizando com eficiência os recursos naturais.
O superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, explica que isso é possível porque a capacidade de reserva de água no solo é muito grande, entretanto passa por um trabalho profundo de correção de características físicas e químicas do mesmo. “Principalmente químicas que precisam permitir com que as raízes das plantas alcancem a água. É um trabalho de base na ciência agronômica. Para muitos, isso ainda é inovação”, explica.
Mas o trabalho vale a pena. “A gente tem verificado que em anos como esse quem fez esse trabalho consegue ainda mitigar significativamente os problemas que a seca pode apresentar, porque conseguiu enviar raízes a lugares que outros não conseguiram”, afirma.
VALE OURO
Agricultor, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, considera o manejo do solo o caminho de continuidade para a segurança ambiental e de produção das lavouras. “O maior local para armazenar água é no próprio solo. O aprofundamento de raízes ajuda a fazer o processo de descompactação do solo”.
Cita como exemplo as culturas de inverno como trigo e milho, pelo sistema radicular agressivo que possuem e que auxilia na descompactação. No caso do milho, há ainda uma necessidade de aumento da produção para atender a demanda da proteína animal.
Polo vê na pauta uma gama de oportunidades a serem trabalhadas como capacitação e pesquisa, em busca de maior qualidade, rendimento e sustentabilidade. “Temos um bom caminho pela frente, precisamos unir esforços dentro do poder público, privado, das universidades e potencializarmos a melhoria da qualidade do solo. Precisamos juntos fazer uma grande corrente envolvendo orientação técnica para melhoria do solo, vai fazer a diferença”, avalia o secretário.
A BASE
Se o manejo adequado é a garantia de que o solo terá melhor capacidade hídrica para a produção, é então a base de uma economia estável. Em um país com vocação agrícola cujo estado gaúcho possui 40% do PIB vindo do campo e que deixou de colher, por baixo, cerca de três milhões de toneladas de soja na última safra devido à estiagem, focar em boas práticas é estratégico.
“Discutir a capacidade de manter cadeias produtivas poderosas e efetivamente garantir a estabilidade dessas cadeias é garantir a estabilidade de emprego e renda para milhões de pessoas do Brasil, porque muitos desses empregos estão dependentes dessa estabilidade”, conclui superintendente do Senar-RS.