Hospital sofre com a falta de pediatras que se afastam do sistema público de saúde

Guilherme Siebeneichler
julho31/ 2017

O Hospital São Sebastião Mártir é mais um na lista de casas de saúde que enfrentam diariamente o desafio de fechar as escalas de pediatras. Hoje são três profissionais que atuam na instituição, sendo que em agosto serão dois, já que um pediu afastamento. De acordo com o administrador da entidade, Jonas Kunrath, seriam necessários de cinco a seis pediatras para não haver sobrecarga de trabalho destes médicos que fazem escalas de plantão 24h. Para aliviar a jornada e garantir o rodízio, o hospital recorre a pediatras de outros municípios.

Kunrath explica que o pediatra possui papel crucial dentro da vida de uma casa de saúde. O envolvimento vai além dos atendimentos de consulta no plantão, atuando também nas internações de crianças (em média 50 por mês), em partos (média de 80 por mês) e na maternidade. No caso dos partos, por exemplo, o acompanhamento é obrigatório. Segundo o administrador, caso não haja pediatra disponível para a realização de um parto, o serviço é contratado em outro hospital, o que ocorreu no mês passado.

A situação motiva a instituição a publicar nos próximos dias um comunicado à população onde explica o contexto e solicita compreensão. “Esperamos que as pessoas entendam que trabalhamos para não comprometer os serviços, mas profissionais desta especialidade estão escassos,” afirma Kunrath. No mesmo documento, o hospital fará um chamamento para a categoria informando que está à procura de pediatras.

DESINTERESSE
A falta de médicos dessa especialidade não é exclusividade de Venâncio Aires. A justificativa do do Conselho Regional de Medicina (Cremers) é o desinteresse dos profissionais em atuar no sistema público de saúde. Para o delegado regional do Cremers, Gilbero Cano, a pediatria é a especialidade menos remunerada entre a categoria.
Embora sem referências de valores para comparativo com demais especialidades, o médico que atendeu crianças por 45 anos é enfático ao afirmar que basicamente o motivo é a remuneração. “Levamos muito tempo para nos formar, fazemos três anos de residência para depois ganhar o mesmo que um clínico geral inicial, porque os governos pagam pouco”, avalia.

Além disso, Cano também aponta a especificidade em atender crianças como um dos motivos para a falta de interesse. “Pediatra não pode desligar o telefone, é dia e noite. A consulta é mais demorada pelo próprio comportamento da criança que exige mais tempo, paciência”.

Em Venâncio Aires, o salário inicial de um pediatra é de R$ 3.810,63 para uma jornada de 10h por semana. O mesmo valor é pago para as outras especialidades como ginecologia, traumatologia, entre outros.

POSTOS
A falta de pediatras no mercado afeta também os postos de saúde que no inverno sofrem ainda mais para dar conta da demanda. Venâncio possui dois pediatras que atendem nos postos Central e da Santa Tecla. Em média, a dupla atende 48 crianças por dia. Atualmente um está de férias, e a saída é que os pequenos sejam atendidos por clínicos gerais.

O secretário de saúde, Ramon Schwengber, também alega dificuldades em encontrar pediatras interessados em trabalhar nas unidades básicas de saúde. “Falta pediatras como um todo, no Estado, no País. Quando a temperatura muda aumenta a demanda, mas precisamos dar férias para os profissionais. A nossa rede está acostumada e os clínicos têm condições de atender”, explica. Foi o que ocorreu na última semana, quando a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que não possui pediatria, estava com maior número de crianças a serem atendidas.

O delegado regional do Cremers, Gilbero Cano, discorda e afirma que pode haver prejuízo no atendimento de crianças por clínicos gerais. “Lógico que há prejuízo, não é tão preciso. Já vi clínico analisando radiografia e concluindo que não havia fratura quando a criança estava quebrada. A lesão é diferente, na criança não lasca, é só um amassado, não aparece tão nitidamente”, defende.

O secretário de saúde acredita que o terceiro pediatra a chegar ao município por meio do concurso deste domingo, 30, deve ser o suficiente para atender as crianças venâncio-airenses. O concurso possui uma vaga para a pediatria.

Guilherme Siebeneichler