São nos últimos meses do ano que as exportações da região registram aumento, muito por conta dos embarques de tabaco processado durante o período de safra na indústria. Porém, uma crise de logística, que atinge escalas globais, pode prejudicar o cronograma de exportações e reduzir os valores comercializados em 2021. O setor produtivo busca alternativas de rotas, já que tradicionalmente os embarques regionais ocorrem via porto de Rio Grande. O Sindicato Interestadual das Indústrias do Tabaco (Sinditabaco) avalia a situação junto às indústrias.
Conforme o presidente da entidade, Iro Schünke, as empresas buscam alternativas de forma individual para suprir a demanda. “Sabemos que há empresas buscando novas rotas, mas é preciso destacar que este é um problema global, diversos países estão enfrentando problemas para exportar suas mercadorias. A cadeia do tabaco é global, o Brasil é o principal exportador deste produto e vai ter reflexo também,” destaca.
Aproximadamente 18 meses após o início da pandemia da Covid-19, o transporte marítimo global ainda está em crise, com atrasos surgindo durante o pico do período de compras de final de ano e já afetando as exportações brasileiras, especialmente o agronegócio. Os fechamentos de portos durante a pandemia e os altos custos do frete internacional contribuíram para a alta de preços e causaram cancelamentos e atrasos.
O Brasil também tem vivido dificuldades para encontrar contêineres e navios. “A alternativa seria o uso de aviões, mas os custos são muito maiores, o que inviabiliza para o setor do tabaco. Algumas empresas cogitam embarcar por Santa Catarina. O momento é de observar a situação global e buscar caminhos de alternativa,” salienta Schünke.
O dirigente destaca que em setembro o volume de tabaco embarcado é 5% menor, se comparado ao mesmo período do ano passado. Já em outubro a redução chega a 4,4%. Projeção é de normalização no primeiro semestre de 2022.
CUSTOS
Outros setores, como o de calçados, observam o impasse logístico gerar mais um impacto negativo: a alta dos preços. O frete do contêiner com matéria prima subiu de US$ 3.000 para US$ 10.000. A crise logística tem sido pauta no Governo Federal também pelos reflexos no setor agrícola. A frente parlamentar da agropecuária se reuniu com os ministérios da Economia, da Infraestrutura e da Agricultura. Deve haver um encontro ainda em novembro com transportadores marítimos para analisar alternativas.
O deputado Heitor Schuch (PSB) também manifesta preocupação com os impactos da crise logística na agricultura. Na última quinta-feira, 04, o parlamentar protocolou pedido para que a Comissão de Agricultura da Câmara promova seminário no Rio Grande do Sul para discutir a sustentabilidade econômica no campo, com destaque para a elevação dos custos de produção, gestão, produtividade e rentabilidade do agricultor na próxima safra.
A sugestão do parlamentar é que o evento seja realizado em Porto Alegre ainda no mês de novembro. A solicitação será avaliada pela comissão nesta semana. “Esse tema é urgente especialmente diante dos fortes reajustes dos preços dos fertilizantes que tornam preocupante o cenário para a próxima safra”, destaca Schuch, que presidente da Frente Parlamentar da Agricultura.
ELEVAÇÃO NOS PREÇOS DE INSUMOS PREOCUPA AFUBRA
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) aponta preocupação frente a situação da logística global, que já eleva também os preços dos insumos agrícolas. Segundo o presidente da entidade, Benício Albano Werner, a safra atual ainda não sofreu com a elevação significativa dos preços para a produção, porém, a plantação de 2022 terá impacto nos custos ao produtor.
“Além do custo dos produtos que já registram aumento de pelo menos 70%, muitos fornecedores não conseguem entregar no prazo estabelecido. Essa situação terá impacto direto na safra de tabaco de 2022/2023. É uma crise globalizada que terá reflexos na produção de tabaco nos próximos dois anos,” afirma Werner.
De acordo com o dirigente, a atual safra do tabaco não sofreu grandes impactos, entretanto os custos para o novo cultivo já são verificados. “No tabaco a elevação dos custos serão sentidos a partir do próximo ano. Mas culturas como milho e soja tem reflexos na atual safra, já que os preços tem oscilado ao longo do ano,” explica. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também tem alertado para elevação dos custos de produção. Entre os adubos, os preços da ureia, do fosfato monoamônico (MAP) e do cloreto de potássio (KCL) subiram 70,1%, 74,8% e 152,6%, respectivamente. Já entre os agroquímicos, o glifosato lidera com avanço de 126,8%, informou a CNA com base em resultados do projeto Campo Futuro.
Com informações CNA