A produção de alimentos tem ganhado terreno, literalmente no Rio Grande do Sul, nos últimos 10 anos. Levantamento realizado pelo Olá Jornal com base nos números da Emater/Ascar e o IBGE apontam que o plantio de tabaco perdeu espaço no campo, em compensação arroz, feijão, trigo e frutas ganharam território. Em Venâncio Aires, um dos principais produtores de tabaco do país, a queda na área de cultivo chega a 29%. No entanto, as receitas geradas com o cultivo de tabaco tiveram crescimento, garantindo maior rentabilidade aos agricultores. Já as culturas analisadas no levantamento, tiveram aumento de 17%, desde 2011.
Não entram no levantamento os dados produtivos de culturas ligadas às proteínas, que tiveram aumento expressivo no município. Soja e milho também não entram no recorte, já que a maior parte do cultivo é voltada para a produção de ração, óleos e exportação. A análise leva em consideração as lavouras de arroz, feijão, aipim, trigo e frutas (abacate, banana, laranja e tangerina), cultivadas em maior escala na cidade de Venâncio Aires. Esta mesma base de comparação foi utilizada em âmbito estadual. É também essas culturas que ganham destaque nas propriedades de tabaco do Rio Grande do Sul, estado líder na produção.
Os dados da safra 2022 ainda não foram disponibilizados pelo IBGE, entretanto já foram atualizados pelo escritório local da Emater. No Rio Grande do Sul em 2021 a área plantada com os alimentos analisados chegou a 2.337.888 hectares, com mais de 13,4 milhões de toneladas. Já em 2011, foram 2.292.633 hectares de produção, e 13,7 milhões de toneladas. A queda na produção ocorre também em virtude das estiagens registradas nos últimos anos.
Segundo o chefe do escritório local da Emater de Venâncio Aires, engenheiro agrônomo Vicente Fin, além das culturas analisadas, no município ocorre crescimento na produção de hortaliças e olerícolas, impulsionadas pelo crescimento da cooperativa local. “Essas culturas estão ligadas ao aumento de demanda ofertada pela Cooperativa de Produtores. Além disso, o aipim tem reconhecimento de qualidade junto a Ceasa, também fazendo a produção de Venâncio crescer ao longo das safras.”
Segundo o representante do órgão de assistência técnica, desde 2010 as famílias estão sendo motivadas a diversificar as atividades geradoras de renda. Mesmo com a perda de área de produção, na safra 2021/2022 o tabaco registrou crescimento nas receitas geradas. Segundo o Valor Bruto de Produção Agrícola de 2022, a cultura concentrou 67,5% das receitas do campo, movimentando mais de R$ 270,9 milhões.
“O tabaco reduziu no período analisado 29% da área de plantio, muito também pelo envelhecimento da população rural, e o êxodo do campo. Mas mesmo assim aumentou as receitas para os produtores, com a valorização do produto,” destaca Fin.
PROTEÍNAS
Em Venâncio Aires o principal destaque na produção de alimentos está ligado às proteínas. A participação de receitas geradas a partir das culturas de frangos, suínos, bovinos e leite tiveram um salto de 92%. Em 2010 estes núcleos produtivos movimentaram R$ 47,6 milhões, e em 2022 alcançou R$ 91,7 milhões. “E devem crescer mais, porque em Venâncio outros 10 aviários devem entrar em funcionamento ao longo deste ano, aumentando as receitas na agricultura geradas a partir da produção de alimentos,” ressalta.
FORÇA FAMILIAR
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, destaca que a força produtiva de alimentos no Rio Grande do Sul está concentrada na agricultura familiar. “Dentre os produtos da agropecuária gaúcha de maior valor bruto de produção, são tipicamente familiares, a produção de frangos, a produção de leite e a produção de suínos, sendo que nas outras culturas de destaque a agricultura familiar tem uma importante participação na produção. Em determinadas regiões do estado há municípios onde a soja é uma cultura produzida em ampla maioria por agricultores familiares, por exemplo.”
Além das produções já citadas, Silva destaca que produções consumidas diariamente pelos gaúchos saem das propriedades familiares. “Os agricultores familiares têm um papel essencial de abastecimento do mercado interno de alimentos. Culturas como a batata, mandioca, banana, tomate e laranja que chegam todos os dias nas nossas mesas, saem dessas propriedades.”
Juntas essas culturas citadas somam mais de R$ 2,3 bilhões em receitas geradas no campo na última safra gaúcha.
POLÍTICAS PÚBLICAS
O avanço da produção de alimentos em território gaúcho, na opinião do dirigente, passa por políticas públicas de incentivo. “Para que possamos garantir o desenvolvimento e também a produção de alimentos, é necessário uma política robusta voltada à agricultura familiar que impulsione o manejo adequado do solo, o cuidado com as nascentes e cursos d’água, incentive o armazenamento de água e a irrigação. Além disso, o estado deve ter um planejamento de curto, médio e longo prazo incentivando a vocação produtiva de cada região agrícola do Rio Grande do Sul. Só assim iremos nos desenvolver com sustentabilidade econômica, social e ambiental,” conclui.
Esta reportagem abre uma série jornalística elaborada pelo Olá Jornal que vai mapear a atual produção de alimentos na região, os desafios e medidas para impulsionar este segmento do agronegócio gaúcho.