As despesas com medicamentos durante o pico da pandemia superam o valor do convênio Covid entre o Município e o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Somente em março deste ano, o gasto com medicações do kit intubação chegou a R$ 1.326.764,88, ou seja, mais do que os R$ 1.290.540 repassados no mesmo mês a casa de saúde para despesas com leitos clínicos e de UTI Covid. Caso o valor fosse o mesmo praticado em dezembro de 2019, antes da pandemia, o custo com a mesma quantidade de medicações seria R$ 311.134,16 não chegando a metade do valor deste ano.
O medicamento que mais disparou em preço, chegando a 885%, e consumo foi um sedativo, é utilizado na intubação de pacientes. O consumo em dezembro de 2019 foi de 540 ampolas e em março de 2021, pior momento da pandemia até agora, saltou para 6.323 ampolas. A despesa foi de R$ 436.287 (R$ 69,00 a unidade) mas poderia ter sido R$ 37.260, se o preço unitário fosse os R$ 7,00 praticados em dezembro de 2019.
Conforme o farmacêutico responsável técnico e coordenador de suprimentos do HSSM, Cássio Severo, a justificativa do mercado para elevação dos preços foi a falta de matéria prima devido ao aumento excessivo de consumo relacionado diretamente ao número de infectados pelo Covid-19 e a gravidade dos pacientes. Mesmo assim considera o aumento abusivo. “O aumento foi abusivo, houve falta de sensibilidade e até de idoneidade. No momento em que mais se necessita para salvar vidas acabam aumentando tanto e obrigando os hospitais a comprar. Pode-se dizer que foi falta de ética também”, avalia.
INVESTIGAÇÃO
A realidade do HSSM é a mesma enfrentada por outros tantos hospitais Brasil afora e foi relatada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul que investiga o assunto. Os deputados que estão percorrendo o estado em busca de dados para a investigação estiveram em Venâncio Aires na última semana. Entre as buscas estão se a alta nos preços ocasionou a falta de suprimentos e, como consequência, de atendimento de algum paciente e a existência de exigência de compra casada de medicamentos. Além disso, os parlamentares questionaram a avaliação da casa de saúde em relação a centralização de compras do kit intubação por parte do Governo Federal.
O coordenador de suprimentos do HSSM afirma que nenhum paciente ficou sem atendimento, graças a gestão da equipe, e que não houve compra casada embora a oferta tenha ocorrido por parte de alguns vendedores. “Nenhum paciente ficou sem medicamento. Alguns zeraram o estoque, mas com a mudança de protocolo, onde acabou-se substituindo um medicamento por até três medicações para fazer o mesmo efeito, foi possível atender a todos. O oxigênio contou até com carregamento da Prefeitura que foi recarregar os cilindros no fornecedor, mas nunca zerou, não deixamos pacientes desassistidos”, explica.
Em relação aos gatos com oxigênio, não houve elevação no preço por parte do fornecedor que honrou o contrato já em vigor. A elevação do valor ocorreu somente devido ao aumento de consumo.
