Experiências pessoais e histórias de vida marcaram a participação do público durante consulta externa sobre o projeto de regulação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). O processo foi realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aprovação da Agenda Regulatória 2021-202. Todos os 146 projetos foram submetidos a duas Consultas Dirigidas, uma destinada à participação da sociedade e a outra específica para os demais entes do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).
Entre pedidos de liberação dos produtos no Brasil e sugestões de como fazê-lo, os testemunhos de fumantes chamam atenção no universo de mais de 1.200 contribuições sobre o assunto. A participação não somente demonstra interesse social e necessidade de andamento e finalização da discussão do tema no Brasil, conforme foi reconhecido pela Anvisa na conclusão do processo, como evidencia a utilização desses produtos, embora ainda proibidos, como alternativa ao cigarro.
A maioria são relatos de fumantes que substituíram o cigarro tradicional por algum produto eletrônico, seja tabaco aquecido ou nicotina líquida. Um deles afirma que após 30 anos iniciou a utilização de cigarro eletrônicos e viu em um mês os benefícios da troca. Depois de dois anos, afirma que não sente mais falta de ar. “Nem mais uso aquelas bombinhas para asma faz mais de dois anos”, relata.
Os depoimentos chamam atenção ainda mais pelo fato da comercialização desses produtos ser proibida no país, o que demonstra o acesso pelo contrabando, tema também abordado pelos participantes. “A regulamentação do uso de dispositivos eletrônicos de vapor vai impedir facilitar o abandono do cigarro convencional, impedir o contrabando e proporcionar a arrecadação de tributos”, afirma um dos participantes. “Quero poder comprar os insumos do meu cigarro eletrônico legalmente. Foi a única alternativa que me fez largar o tabagismo”, reivindica outro.
A defesa de redução dos malefícios ao chamado fumante passivo, também aparece sendo um deles após 16 anos consumindo cigarros tradicionais. “Os benefícios de ter migrado pro Vape se estenderam para a minha casa. Além de não ter mais aquele cheiro de cigarro em todos os cômodos, minha filha, com quatro anos hoje, não precisou mais ir ao médico com gripe e tosse, algo que era comum antes. No dia 01/01/20 demos a luz a nossa filha recém nascida, e posso dizer que o nascimento dela encerrou este ciclo maldito de vez”, afirma o ex-fumante de cigarros.
SAÚDE
Embora não esteja sendo discutida pela Anvisa a utilização desses produtos como tratamento para deixar de fumar, os testemunhos levam a esse caminho também por profissionais de saúde que participaram das consultas. “Sou médico psiquiatra e vejo no meu dia-a-dia a dificuldade dos meus pacientes em pararem de fumar com as opções atuais de reposição de nicotina”, afirma um dos participantes.
Um deles traz a experiência como profissional e usuário. “Como ex-fumante e médico, venho pedir que a Anvisa regularize a comercialização de dispositivos que vaporizam a nicotina. Fumei por mais de 5 anos e só consegui parar utilizando cigarro eletrônico. Hoje tenho a consciência de que não estou consumindo um produto tão prejudicial quanto antes, embora saiba que não existem estudos sobre o uso a longo prazo dos cigarros eletrônicos”. Também há abordagem sobre a diminuição gradativa do teor de nicotina com a utilização dos novos produtos e a utilização dos mesmos após as medidas convencionais como adesivos, chicletes e remédios.
FOTO: Divulgação/AI Anvisa