Venâncio Aires 132 anos: uma cidade de pioneiras

Olá Jornal
maio11/ 2023

Não é de hoje que a liderança feminina ganha espaço na construção de sociedades. Em Venâncio Aires, que neste dia 11 de maio celebra 132 anos de emancipação, o papel da mulher foi fundamental para o desenvolvimento e urbanização da cidade. Essa relação de força e projeto de futuro é documentada por fatos históricos, que colocam na vanguarda figuras femininas.

A vinda dos primeiros imigrantes portugueses na região de Vila Mariante, fez despertar as lideranças já nos primeiros anos do século 1.800. Isso porque, as famílias portuguesas que ocuparam as margens do Rio Taquari, tinham nas esposas a chefia das residências fazendas. Os maridos, ligados ao serviço militar, acabavam viajando, ficando nas mulheres a responsabilidade de administrar os espaços e liderar os vilarejos.

“As mulheres desde o início da imigração faziam girar a economia. Ligados à cultura açoriana, os primeiros povoados do território onde está Venâncio Aires, mantinham as casas, enquanto os maridos estavam prestando o serviço militar. Eram elas que realizavam o comércio de animais, produção de doces e produtos com lã. Essa realidade começa a mudar e a área urbana ganha forma a partir da doação de terras feitas por Brígida Joaquina do Nascimento, transformando as características do território venâncio-airense,” destaca a escritora e psicopedagoga, Maria Zulmira Portella de Moura.

Para a autora do livro “Buscando Raízes,” que descreve os primeiros passos do novo povoado, Venâncio Aires ganha forma, como município, a partir da doação de terras feitas por Brígida, em 1864, para a construção de uma capela em honra a São Sebastião Mártir. “A partir deste fato, a nossa cidade ganha forma e sai dos demais pontos de povoamento. Essa doação inicia a urbanização, com definição dos lotes, colocando um novo perímetro urbano para a cidade,” comenta.

No mesmo sentido, a historiadora, Angelita da Rosa, destaca que foi a partir da visão de uma mulher, que se formalizou a cidade com as características que vemos atualmente. Quadras definidas e a centralização na praça e igreja matriz. “Dona Brígida é uma das primeiras mulheres que podemos falar com mais grandiosidade da história de Venâncio Aires, porque a doação de 10 mil braças quadradas de terra [4,8 hectares], dá origem ao grande núcleo urbano de Venâncio Aires. A povoação acontecia para os lados de Vila Mariante, e na região do Alto Sampaio, com os primeiros imigrantes alemães. Aqui na área urbana atual, não existia nada. É a partir desta doação, para fazer a capela, e onde se desenha o mapa urbano como um tabuleiro de xadrez, que o município ganha a sua urbanização.”

VISÃO
A docente e autora do livro “São Sebastião: A fé fazendo história em Venâncio Aires” destaca ainda que a memória histórica, a partir da visão das mulheres, precisa ser resgatada, uma vez que ela foi contada pela visão masculina, em grande parte das conquistas da humanidade. “Do ponto de vista histórico as mulheres não são referendadas. São poucas, Anita Garibaldi, Carlota Joaquina e Joana d’Arc, até porque a história sempre foi escrita por homens brancos e vencedores das batalhas,” comenta.

Ao resgatar a memória da primeira liderança feminina de Venâncio Aires, Angelita afirma que o papel de liderança de Brígida foi impulsionado pelo histórico familiar. Ela era neta do capitão Francisco Machado Fagundes da Silveira, dono da primeira área de terras de Venâncio Aires, com posse do território a partir de 1762. Porém, quem ocupava as terras eram escravos, já que o militar vivia em Rio Pardo. “Ela tem uma relação de liderança feminina, muito porque a família era reconhecida, com filhos militares, o próprio Francisco Machado Fagundes. Quando o filho e netos vieram morar na região, acabam tendo essa liderança por ter essa estirpe de serem donos destas terras,” destaca.

Em 8 de maio de 1884, a localidade de Faxinal dos Fagundes alcançou sete mil habitantes e se elevou a “Freguesia de São Sebastião Mártir”. Em 1891 surgiu o município de Venâncio Aires, em decreto assinado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Fernando Abbott.

COLONIZADORAS E LÍDERES PARA O DESENVOLVIMENTO

Ainda no resgate histórico destes 132 anos de emancipação, antes, entre os anos de 1853 e 1856 chegam os primeiros imigrantes alemães para a região. Este novo perfil de colonizador muda as características da região, vindos do continente europeu que já contava com indústrias e cidades importantes na geração de riqueza para o mundo.
Para a historiadora, a cultura germânica ajudou a desenvolver núcleos urbanos, o que fomentou o crescimento de Venâncio Aires como uma nova cidade. No livro Os Velhos Gressler, o escritor Paulo Gressler, aponta que Linha Brasil era um centro populacional e urbano, por contar com minifúndios. Essa relação ajudou a desenvolver a relação de comunidade, permitindo, por meio do associativismo, ampliar os perímetros urbanos da cidade.
“Linha Brasil e Vila Mariante eram os extremos do nosso município, com locais mais povoados. Se não fosse a doação da Brígida, não teríamos esse centro urbano como temos hoje. Com a construção da capela, foi feita divisão de lotes que vendidos ajudaram na construção da nova igreja, iniciando pontos comerciais para atender as pessoas que vinham de longe para acompanhar as missas. Se não fosse isso, não teríamos essa ligação entre as duas pontas do território de Venâncio Aires, entre parte lusitana e germânica,” comenta.

DESENVOLVER
Tanto a escritora Maria Zulmira Portella de Moura, como a historiadora, Angelita da Rosa, destacam que as mulheres tiveram papel fundamental no desenvolvimento da Capital do Chimarrão. “As mulheres tinham a incumbência de fazer saraus, atrativos para os jovens, e ajudaram a construir a cultura da região. Essa organização estava sempre sob responsabilidade das mulheres, impactando toda a cultura, trazidas das ilhas portuguesas para as novas colônias, ainda no início do desenvolvimento do nosso município,” comenta Maria.

RESILIÊNCIA
Na colonização alemã, Angelita afirma que a educação foi um dos pontos de desenvolvimento das regiões. “Vinham de uma Europa urbanizada, o analfabetismo era incomum entre os primeiros imigrantes alemães, e a educação sempre foi uma preocupação constante nas colônias. Essa mulher quando chega nas terras venâncio-airenses, não tem casa, não existem estradas, se abrigam em choupanas, não têm o mínimo para exercer o cotidiano doméstico, cuidando de filhos, clima adverso, alimentação diferente. Houve resiliência e trabalho conjunto para formalizar a cidade que vivemos atualmente,” conclui.

FOTOS: ACERVO NUCVA E LIVRO “VENÂNCIO AIRES: BUSCANDO SUAS RAÍZES”

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