Maior fator de risco para doenças e mortalidade, o tabaco teve seu consumo reduzido nas últimas três décadas, mas segue sendo fator de preocupação na área da saúde. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam para um decréscimo de 35% para cerca de 10% de usuários entre a população adulta. Os dados ganham destaque também neste 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco.
“Significa que o tabagismo vem encolhendo, isto é importante, mas ainda temos 18 milhões de fumantes, o que é muita gente”, contabiliza o médico Luiz Carlos Corrêa da Silva, pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Conforme ele, de cada duas pessoas fumantes, uma vai morrer em consequência do tabaco.
E o sul do Brasil possui o maior número de fumantes em comparação com as demais regiões. Os levantamentos apontam que o Rio Grande do Sul, especialmente sua Capital, Porto Alegre, apresenta os maiores índices de tabagismo, tanto do sexo masculino quanto do feminino. “Enquanto em capitais como Aracaju os índices ficam abaixo de 10%, em Porto Alegre ficam entre 15% e 17%”, aponta.
Andréia Volkmer, coordenadora do Programa Estadual de Controle ao Tabagismo da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS), informa que Porto Alegre é a terceira capital do país em número de fumantes. E fica em primeiro lugar em fumantes pesados, que usam mais de 20 cigarros por dia. Para marcar o Dia Mundial sem Tabaco, nesta sexta-feira, 31 de maio, Andréia informa que a SES/RS, alinhada ao que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguindo as orientações do Ministério da Saúde e do Inca, chama a atenção da sociedade gaúcha sobre os perigos do cigarro e seus derivados e orienta sobre as formas de tratamento para quem quer deixar de fumar. “Nosso programa atua na prevenção, para que as pessoas não adquiram o hábito de fumar, e ainda acolhe as que fumam para que possam, através de uma abordagem de tratamento, deixem de fumar”, explica.
Andréia revela que, no último quadrimestre, foram atendidos cerca de 7 mil tabagistas oriundos de 216 municípios gaúchos. O atendimento é feito nas unidades básicas de saúde com grupos de fumantes. Ela anuncia que, em 2019, a proposta é aumentar o número de municípios que acolham tabagistas.
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são muito relacionadas ao tabaco e ao tabagismo. Entre elas há as doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, câncer em diversos locais e doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) – conhecidas como enfisemas – que, conforme Luiz Carlos Silva, explicam mais de 70% das mortes humanas por causas não externas. “Para a OMS, se as pessoas parassem de fumar, essas doenças diminuiriam mais de 30%”, observa. Ele acrescenta que o câncer de pulmão e as DPOC cairiam cerca de 90%. “Então, as pessoas têm que se dar conta de que estão atentando contra sua saúde e sua vida.”
Câncer de pulmão, da laringe e da cavidade bucal têm alta prevalência entre fumantes, assim como doenças dos brônquios e enfisema pulmonar. Também têm relação com as doenças do tecido pulmonar e fibrose pulmonar. Uma moléstia que não se tinha ideia de ter relação é a tuberculose que, agora se sabe, ocorre três vezes mais em fumantes do que não fumantes. “Mudanças precisam ser feitas, como pensar uma nova maneira de viver e de encarar o mundo, principalmente seu mundo interior”, ensina Silva.
O médico de família e comunidade da Unidade Básica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Francisco Arsênio de Oliveira destaca a importância da terapia em grupo entre tabagistas dispostos a parar. Trabalha com grupos abertos onde são discutidas formas de lidar com a abstinência da nicotina. Ele explica que o tratamento para o fumante começa com a vontade de parar de fumar. “Cada paciente deve criar o seu método para conseguir parar, descobrir sua principal motivação. Trabalhamos com a disseminação de informações e com medicação. Mas não existe medicação mágica. Se não tiver vontade, não vai parar de fumar. É muito fácil parar de fumar. O mais difícil é permanecer longe do cigarro depois de ter parado”, alerta.