Setor rebate proposta de proibição do cultivo de tabaco

Guilherme Siebeneichler
agosto27/ 2016

Na última semana representantes de indústrias cigarreiras e do Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP) estiveram reunidos com o ministro da Saúde Ricardo Barros. O encontro foi agendado com o objetivo de discutir medidas que possam restringir o comércio ilegal de cigarros. Porém, uma fala do chefe da pasta deixou os participantes preocupados. Ele propôs o fim do plantio de tabaco no Brasil.

Não é a primeira declaração polêmica de Barros. Há poucos dias ele afirmou que os homens utilizam menos os serviços do SUS porque trabalham mais, outra vez disse que a maioria dos pacientes que procuram atendimento em unidades de atenção básica da rede pública apenas imagina estar doente, mas não está. A assessoria do Ministério da Saúde afirmou à reportagem do Olá Jornal que a pasta não vai se manifestar a respeito da declaração propondo o fim das plantações de fumo.

A declaração teve um efeito negativo para os representantes do setor, uma vez que a cadeia produtiva possui mais de 150 mil famílias rurais que tiram do tabaco a sua renda. O período também exige atenção, já que neste ano ocorre a 7ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). O momento é de mobilização do setor buscando evitar medidas restritivas a produção no acordo global de combate ao consumo de cigarros.

DESCONHECIMENTO

De acordo com Edson Vismona, presidete executivo do FNCP, a declaração do ministro demonstra o desconhecimento com o setor, destacando que a reunião objetivava buscar ações governamentais para diminuir o comércio irregular de cigarros. “O comércio ilegal decorrente do contrabando, deve ser combatido também pelas autoridades da saúde, pois desconhecem a nossa legislação.”

Para Vismona, o posicionamento do ministro deveria ser de comprometimento nas medidas de fiscalização dos produtores ilegais, como o cigarro contrabandeado. “Não encontra respaldo na realidade. A produção, industrialização e comercialização do tabaco é totalmente lícita. Gera cerca de 240 mil empregos. O que o ministro deve propor é o fim do comércio ilegal, o combate ao contrabando e rigor na fiscalização de produtos que desconhecem a regulamentação da ANVISA.”

INFELIZ

O prefeito de Venâncio Aires e presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, Airton Artus, classificou o posicionamento de Barros como infeliz. “Isso comprova o despreparo dele. Não sei se é burrice ou falta de conhecimento, mas ele tem se posicionado em outros momento de forma errada também. Se proibir o cultivo resolvesse não teríamos o consumo de maconha ou cocaína.”

Para Artus, o ministro precisa buscar informações e ser melhor preparado sobre os mais diferentes setores, inclusive o da saúde, “que demostra não ter conhecimento nenhum,” pondera.

ENTIDADES
Sem terem participado da reunião com o Ministério da Saúde, o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) e a Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo) não se manifestaram sobre a declaração de Barros. Segundo as entidades, o caráter da fala não foi oficial, desta forma não irão se pronunciar.

ESTUDO 

Em maio deste ano o Ministério da Saúde publicou números sobre o consumo de cigarros no Brasil. As informações foram divulgadas para marcar o Dia Mundial Sem Tabaco. Parte das informações foram coletadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil gasta em média R$ 21 bilhões por ano no tratamento de pacientes com doenças relacionadas ao cigarro. O tabagismo é responsável por 13% das mortes no País. São 130 mil óbitos anuais (350 por dia).

Guilherme Siebeneichler