Saúde Mental exigirá novo olhar em tempos de avanço da pandemia

Olá Jornal
março27/ 2021

O agravamento da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) trará desafios além dos já projetados por cientistas e economistas. Os reflexos na saúde mental da população estarão presentes por um bom tempo. O pico de casos, internações e mortes, ainda terão agravantes com o empobrecimento da população, por conta da crise econômica. Com isso, especialistas em saúde mental destacam a preocupação com os próximos meses. O caminho apontado por psicólogos é: conversar sobre nossas angústias.

Nas atuais circunstâncias, em que há maior dificuldade em se organizar o futuro e o estresse se torna crônico, fica mais vulnerável quem se sente emocionalmente sozinho ou está com os vínculos enfraquecidos. “Todos estamos abalados e isso se concretiza com os conflitos da convivência, pouca paciência. Estamos suscetíveis e estamos com dificuldade de manter o foco na rotina, seja pela situação da pandemia, do luto, do enfrentamento da doença ou das dificuldades financeiras enfrentadas atualmente,” explica a professora Edna Linhares Garcia, docente dos programas de pós-graduação Mestrado Profissional em Psicologia e Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde da Unisc.

Para a docente, as doenças psicológicas devem aumentar nos próximos meses. “A demanda por saúde mental já existe e está em sua intensidade. A tendência é só crescer, embalado também pelo agravamento da pandemia. A situação já está aí e precisamos pensar em ações para dar suporte. É preciso ouvir a nossa população,” destaca.

AÇÕES PÚBLICAS
Algumas ações públicas já estão em desenvolvimento no município e região. É o caso do projeto “Vale a Vida” que busca garantir atendimento remoto em psicoterapia para residentes dos vales do Taquari e Rio Pardo, no contexto da Covid-19. Outro será implantado em Venâncio Aires, com recursos federais, para suporte à comunidade por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do Município.
“Precisamos ampliar a ideia de saúde mental. Criar equipes de apoio na rede de saúde, por meio de políticas públicas. Não só medicação, psiquiatras, mas trabalhar a saúde mental de forma mais ampla,” explica Edna.

ENTENDER
Para a psicóloga e gerente de qualidade do Hospital São Sebastão Mártir (HSSM), Susan Artus Dettenborn, o momento é de entender a saúde mental e dar suporte. “Mais do que nunca se tornou necessário a sociedade entender as doenças mentais. É fator quase que primordial porque a partir da saúde mental a gente sabe que muitas doenças são evitadas. Trabalhando a nossa cabeça a gente consegue entender muitos outros processos físicos que temos. Quando se enfraquecem nossos pensamentos, a gente se desestabiliza de uma forma que o nosso corpo percebe, e isso se torna uma quebra na nossa engrenagem.”

SUPORTE AOS PROFISSIONAIS
Um grupo de psicólogos voluntários também tem garantido suporte aos profissionais que estão na linha de frente da pandemia, junto ao HSSM. Além disso, a instituição hospitalar mantém psicólogo e estagiários à disposição dos profissionais. “A gente percebe muito um relato de angústia frente a pressão, não social ou dos familiares, é uma pressão do momento mesmo, afinal de contas, os profissionais de saúde fazem juramento em prol da vida, em defender a vida das pessoas, tentar restabelecer o máximo possível e, frente essa situação do Covid, a gente não tem muita certeza do que pode acontecer,” destaca Susan.

AJUDA
A profissional afirma que é preciso atuar na identificação de sinais de pedido de ajuda. “Às vezes não somos nós que percebemos os sinais de procurar ajuda. Às vezes são as pessoas que estão próximas a gente que começam a perceber que estamos mais irritados, sem paciência, demonstrando mais angústia frente às coisas. Aparentemente, a gente está mais sentimental, se ofende com mais facilidade. Viramos quase um compêndio de ansiedades. Então é hora de parar para pedir para alguém que não viva a nossa vida nos olhar com essa percepção diferente, com olhar mais criterioso, jamais de julgamento, mas sob outro ponto de vista. Esse seria o caminho pra conseguir buscar ajuda,” argumenta.

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