“As pessoas fumam para obter nicotina, mas morrem por causa do alcatrão”. A conclusão parece atual mas foi proferida há 45 anos pelo professor Michael Russell, psiquiatra, cientista, pesquisador e pioneiro no estudo da dependência do tabaco e no desenvolvimento de tratamentos para ajudar os fumantes a parar de fumar, na sua publicação no British Medical Journal, em 1976.
De lá pra cá, a sociedade ainda não sabe o que fazer com essa constatação. Novos produtos surgiram com proposta de reduzirem os danos ao tabaco que atualmente possui 1,1 bilhão fumantes, no entanto, saúde pública e controle do tabagismo permanecem profundamente divididos sobre o papel da redução de danos do tabaco.
Enquanto isso, dados dos defensores de novas alternativas apontam que 98 milhões de fumantes adultos mudaram para produtos de nicotina considerados mais seguros e os governos vêm-se diante de um novo cenário cujas decisões regulatórias são cruciais mas ainda desafiadoras. O principal tratado de saúde pública, a Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS) não é suficiente para atender o novo cenário ao passo que não avançou no debate e, assim, segue orientando os países-membro a não aprovarem tais produtos.
O impacto da falta de direção sobre o assunto principalmente para os consumidores foi a tônica do Fórum Global sobre Nicotina deste ano. A 8ª edição foi realizada em formato híbrido nos dias 17 e 18 de junho, em Liverpool, Reino Unido. Especialistas internacionais de saúde pública, cientistas, médicos, especialistas em controle do tabaco, analistas da indústria e de investimentos e consumidores discutiram a redução de danos para pessoas que não conseguem parar de fumar e são encorajadas a mudar para produtos de nicotina considerados mais seguros.
Para o professor adjunto da Faculdade de Direito e presidente do conselho consultivo do Centro de Direito Sanitário, Política e Ética da Universidade de Ottawa, David Sweanor, a adesão a essas alternativas precisa ser discutida sem preconceito uma vez que a indústria do tabaco está se transformando, como todas as outras. “Temos regimes regulatórios sensatos que nos ajudam a reduzir o tabagismo mais rapidamente, ou ficamos presos a algum deles? A inovação vai acontecer, é uma questão de tentar transformarmos isso em benefício da saúde pública”, avalia.
O tratamento diferenciado aos consumidores de nicotina também foi abordado pelos participantes. “Por um lado, a América está combatendo o uso de cannabis pelos jovens, legalizando-a, por outro lado, eles estão combatendo a vaporização da juventude ao proibi-la”.
Atualmente proibidos no Brasil, a liberação dos novos produtos está em análise na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A decisão está agendada para sair neste ano. Alguns países como Japão, Canadá, Suécia, Reino Unido já fazem uso oficial de estratégias de redução de danos em suas políticas públicas. Em julho de 2020 o FDA autorizou a comercialização de um desses aparelhos eletrônicos (IQOS), por considerá-lo um produto de tabaco de risco modificado e exposição reduzida aos riscos do tabaco queimado.
A partir desta edição o Olá Jornal retomará o espaço exclusivo, inaugurado em 2020, para debater o tema oportuno às comunidades onde o tabaco possui relevância econômica e social.
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