As cheias que afetam o Rio Grande do Sul desde a última semana apontam para a ocorrência cada vez mais constante de situações críticas do clima no estado. Ainda em setembro e novembro de 2023 foram registradas cheias históricas. Em 2024, ocorreu o maior desastre do estado com prejuízos em quase 400 municípios gaúchos desde o dia 29 de abril, afetando 1,4 milhão de pessoas. O enfrentamento dos eventos climáticos, na avaliação de especialistas, deverá passar por investimentos públicos, qualificação e preparação da população, uma vez que farão parte da rotina dos gaúchos, de forma mais intensa.
A enchente de maio de 2024 passa a ser um novo parâmetro, após a de 1941. Segundo o engenheiro agrônomo e doutor em Desenvolvimento Regional da Unisc, Jaime Weber, que ministra aulas sobre agrometeorologia, os eventos climáticos vividos pelo estado exigirão políticas públicas mais efetivas para o enfrentamento e minimização dos impactos. “Nem o maior pessimista, imaginava que ia ocorrer uma coisa dessa natureza que vivenciamos nos últimos dias. Mas isso nos coloca em alerta. Nós, de fato, temos que nos preparar para isso. Tanto em nível dos municípios, como do estado, nacional, para eventos dessa natureza. Precisa de recursos, de treinamento das comunidades e precisa de crédito. Além dos recursos públicos, nós vemos que a solidariedade das pessoas faz diferença no primeiro atendimento dos atingidos.”
Segundo o professor, até junho o El Niño seguirá atuando no clima do estado, trazendo mais chuvas, entretanto, a partir do segundo semestre, o clima será seco, com inverno mais rigoroso, trazendo também a possibilidade de estiagem para o próximo verão. “Obviamente, acredito que é urgente uma ação de prevenção, não só com estratégias muito bem definidas para a gente conseguir se preparar minimamente para eventos que possam ocorrer nos próximos anos. Atualmente, vivemos o excesso de chuva, e há indicativos de neste mesmo ano ter os impactos da estiagem, que vai trazer também prejuízos para os moradores do Rio Grande do Sul.”
PREVISÃO
Conforme o docente, ao longo de maio e junho haverá tendência de chuva e risco de temporais em todo o Rio Grande do Sul, em especial para a mudança de estação. “Então, eu diria que em maio é um mês que a gente tem que ficar um pouco em alerta, porque tem essa situação de que nós temos um excesso de água nos rios e principalmente o solo que está bastante encharcado, ele não tem mais uma capacidade de retenção da água. Em junho, possivelmente vai ser um mês um pouco mais seco, com chuvas médias ou abaixo da média para o mês. Julho e agosto possivelmente vai ser seco, com uma quantidade menor de chuva, vai ter um frio,” alerta Weber.
Eventos climáticos vão impactar na migração das localidades
O episódio das enchentes que atingiram mais de 390 municípios do Rio Grande do Sul deve modificar inclusive a ocupação de regiões, não só nas áreas de risco. A migração é uma das mudanças provocadas pela recente crise do clima que atinge em cheio o estado gaúcho. A situação é apontada pela doutora em Geografia, professora e pesquisadora da área de Geociências da Uninter, Larissa Warnavin.
“A gente dificilmente consegue barrar uma inundação dessa proporção, mas precisamos oferecer, políticas públicas que possam garantir uma comunicação segura para as populações, inclusive na hora de deixar as suas casas. Provavelmente cada vez mais pessoas migrando em função desses desastres,” afirma.
PREVENÇÃO
A região terá que, além de realizar investimentos em infraestrutura das cidades, garantir estruturas que suportem cheias e equipamentos de acesso, promover mudanças culturais nas comunidades. “A gente espera, obviamente, que demore muitas décadas para acontecer novamente ou que não ocorra eventos como este, que a gente possa ter obras de infraestrutura agora eficazes, um investimento massivo do governo para que possa amparar essas populações, porque isso sim é um papel da união dos estados, dos municípios, de criar essas condições para a segurança física, ambiental dessas populações,” comenta Larissa.
A pesquisadora afirma que a própria população terá que entender a necessidade de acompanhar alertas e se preparar para eventos climáticos de grande impacto. “Quando eu falo em mudança cultural tem a ver com ações de como se precaver, em atender quando tiverem alertas, alarmes sobre esses eventos extremos e tem a ver com uma mudança de cultura em relação ao que a gente exige dos nossos governantes,” conclui.