Olá Jornal acompanha direto de Nova Iorque o Fórum Novas Abordagens sobre redução de danos do tabaco

Olá Jornal
setembro22/ 2024

O Olá Jornal acompanha de forma inédita nesta segunda-feira, 23, o Fórum Novas Abordagens: Salvando Vidas no Século XXI, direto da cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Realizado anualmente na capital do mundo, o evento terá 11 horas de painéis com especialistas globais em redução de danos e produtos de nicotina.

Ao chegar a 3ª edição, o Novas Abordagens coloca em foco “Como a política, a ciência, a inovação e os avanços tecnológicos podem coletivamente prevenir 1 bilhão de mortes relacionadas ao tabaco neste século”. A agenda é guiada por estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 1,3 bilhão de pessoas no mundo ainda usam cigarros combustíveis, causando 20 subtipos de câncer e 8 milhões de mortes anualmente, 1,3 milhão por fumo passivo sendo que 80% vivem em países de baixa e média renda. O impacto econômico é de até US$ 1,4 trilhão por ano, o equivalente a 1,8% do PIB anual mundial, 40% incorridos principalmente para os países em desenvolvimento.

O fórum compartilha vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), especificamente o ODS 13 sobre mudanças climáticas. Em um dia reúne líderes globais dos setores de saúde pública, política, tecnologia e regulamentação que abordarão a questão do controle do tabaco e a adoção de estratégias de redução de danos.

Um destaque do programa será a apresentação do progresso global no fim do tabagismo e do uso de produtos tóxicos de tabaco sem fumaça, especificamente estudos de caso da República Tcheca, Nova Zelândia e Suécia, que está se aproximando da meta Livre de Fumo 2025 com 5% ou menos de prevalência de tabagismo.

Um líder tcheco sênior descreverá a liderança única de seu governo na integração da redução de danos do tabaco em uma estratégia mais ampla que aborda álcool, drogas e HIV/AIDS. Haverá também, mais uma vez, a exibição de um vídeo de um soldado ucraniano para a ONU com a experiência em primeira mão de seu exército com produtos de redução de danos do tabaco.

O fórum também abordará a questão de longa data da falta de engajamento e colaboração entre pesquisadores da indústria e do setor público, o que tem dificultado a inovação necessária para acelerar o fim do tabagismo. Um relatório revisando uma década de pesquisa sobre redução de danos do tabaco e destacando as lacunas entre as necessidades de pesquisa em países de baixa e média renda, será apresentado pelo presidente do fórum, Derek Yach, que anteriormente liderou os esforços de controle do tabaco da OMS.

IMPORTÂNCIA
Após proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil discute agora a regulamentação de novos produtos de nicotina no Senado. O projeto de lei da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) estabelece uma série de regras para a comercialização, fabricação e importação dos dispositivos. Baseia-se no fato de que a proibição não é eficaz, uma vez que 3 milhões de pessoas consomem os produtos (Ipec) provenientes de contrabando.

PROIBIÇÃO NO BRASIL INCENTIVA O CIGARRO TRADICIONAL E O CONTRABANDO, AFIRMA EX-OMS E PRESIDENTE DO EVENTO

Derek: Brasil precisa se atualizar e estudar a ciência FOTO: Divulgação/New Approaches

A proibição no Brasil incentiva o cigarro e o contrabando. É a avaliação do ex-chefe do controle do tabaco na Organização Mundial da Saúde (OMS) e presidente do evento, Dereck Yach. Em entrevista ao Olá Jornal, o especialista lembrou da liderança brasileira na política de redução de danos no passado e afirmou que o mesmo precisa ocorrer com o tabaco.

“A melhor maneira é que especialistas e pesquisadores brasileiros se encontrem com os líderes da FDA [agência reguladora americana] e entendam por que eles autorizaram todas as categorias de produtos de redução de danos do tabaco como sendo ‘apropriados para a proteção da saúde pública’ e os permitam no mercado para dar suporte a fumantes adultos que param ou trocam de fumar. O Brasil liderou o mundo na aplicação de redução de danos à AIDS. Agora, ele precisa se atualizar em relação ao tabaco”, avalia.

Como ex-diretor executivo da OMS, onde liderou o desenvolvimento da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) pontua que a redução de danos está incluída como parte da definição de controle do tabaco no texto final da convenção e, agora, precisa ser totalmente implementada à luz das crescentes evidências dos benefícios. “Isso requer garantir que os regulamentos e impostos sejam adaptados para produtos de redução de danos para torná-los a opção mais fácil e barata do que os cigarros mortais. Taxá-los menos, permitir declarações sobre benefícios para fumantes que buscam parar de fumar e reduzir o consumo, torná-los mais fáceis de comprar do que cigarros e restringir o acesso dos jovens. Vários países estão seguindo esse caminho e a República Tcheca fornece um bom exemplo de como começar a fazer isso direito”.

Para Dereck, a proibição não é o caminho a ser seguido. “O que devemos evitar são proibições e proibições (como o que é efeito para vapes no Brasil). Isso mantém as pessoas fumando (e morrendo) e alimenta o desenvolvimento de um mercado ilícito ilegal, como está em andamento no Brasil também”, declara.

O especialista recomenda ao Brasil que se atualize em relação ao tabaco e estude a ciência. “Estude a ciência. Não apenas a ciência da indústria, mas massas de dados e publicações mostrando benefícios para fumantes”.

RELAÇÕES
Dereck também destacou sua proximidade com especialistas brasileiros e estreita colaboração com o então embaixador Celso Amorim no início do processo da CQCT, em 1998, enquanto ele liderava o controle do tabaco na OMS.

Amorim é o atual assessor-chefe da Presidência da República. Seu retorno à cena política no momento de discussão sobre redução de danos no Brasil, é considerado uma oportunidade de diálogo. “Eu esperaria isso, já que ele conhece completamente os problemas e, com o embaixador Seixas Correa, supervisionou e presidiu o processo da CQCT que incluía texto sobre redução de danos. Lembro-me de conhecê-lo quando começamos o processo, ele era fumante na época e parou durante as negociações”, conclui o especialista.

Olá Jornal