Novas delações expõem crise ética na política

Outra vez, com a série de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro e delator da Operação Lava Jato, Sergio Machado, que co- locaram na mira a cúpula do novo Governo, derrubaram o ministro Romero Jucá e, de quebra, jogaram suspeitas sobre os aliados do presidente interino Michel Temer. A situação expõe novamente a crise ética evidenciada nos cenários políticos nacionais. Para usar as palavras que Machado repetiu, de uma forma ou de outra, em todos os seus diálogos: reinstalou-se de vez o “salve-se quem puder”.

Velhas figuras do PMDB ganharam destaque nas gravações, José Sarney e Renan Calheiros. Os políticos colocam em debate ações que podem diminuir o trabalho de investigação realizado pela operação Lava Jato. A má notícia para o Governo Temer, é que as gravações vazadas nesta semana seriam apenas um pequeno pedaço do material que Machado entregou à Procuradoria-Geral da República em seu acordo de colaboração.

CRISE MORAL

O sociólogo e professor universitário Valter Freitas destaca que o cenário político brasileiro tem colocado em avaliação de forma mais in- tensa a ética na política. “Essa situação demostra a realidade da política, sem ética e com conchavos históricos. É preciso que a população e a imprensa trabalhe para divulgar estas situações e ajude a mudar esta situação.”

Conforme o Freitas, as acusações e revelações demostram a necessidade de convocar novas eleições. “Não vamos ter um espaço moral e de trabalho com este governo após esta situação, então a saída para dar uma luz no fim do túnel seria convocar novas eleições gerais. A sociedade não sabe o que esperar do governo atualmente,” argumenta.

DEMOCRACIA

Para juiz responsável pelo processo eleitoral em Venâncio Aires, João Francisco Goulart Borges, as tentativas em âmbito nacional de fazer parar a Operação Lava Jato não têm espaço, pois a investigação se transformou em algo defendido amplamente pela sociedade, em que se atue inclusive criminalmente.

O magistrado acredita que, da mesma forma, as modificações na legislação a respeito da delação pre- miada também não terão respaldo. “O momento é de afirmação das instituições democráticas, de uma imprensa forte que divulgue os fatos, de um MP atuante e de um judiciário altivo e independente”, avalia. Borges defende que a divulgação das gravações favorece a democracia, dá mais força para o cumprimento da constituição e prevê que o Brasil será favorecido. “Andamos no fundo no poço, mas vamos sair muito melhor.”

Foto: Divulgação/ AI Senado

Guilherme Siebeneichler