No dia 8 de março, celebrado este ano na próxima terça-feira, é o Dia Internacional da Mulher. A data tem um significado que vai além de comemorar a presença feminina. Quer mostrar as lutas e conquistas ao longo dos anos e, sobretudo, incentivar para que as mulheres sigam ganhando espaço e atingindo os objetivos almejados.
Essa força feminina já é vista em vários lugares. Um exemplo disso é que são maioria entre os homens. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019, mostra que a população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres.
Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) não é diferente. As mulheres já somam quase 60% do nosso corpo administrativo e docente. Já nos cargos de liderança são 55%. Na parte discente, elas são 53%.
Quem não esconde o orgulho em ser mulher e ter se formado na Unisc é a advogada Claridê Chitolina Taffarel, de 53 anos. Ela estava na primeira turma que concluiu grau quando a Unisc recém havia se tornado universidade, ou seja, foi uma das primeiras mulheres formadas na Unisc. “Fui estudar em Santa Cruz por influência de amigos que lá residiam. Prestei vestibular em 1989 e concluí a graduação em 1993. Também fui oradora da turma”, lembra.
Natural de Fontoura Xavier, local em que reside atualmente e é procuradora do município, não sabia, naquela época, que a Unisc se tornaria seu lar acadêmico para também especialização e mestrado. “Ser uma das primeiras mulheres a colar grau em direito pela Unisc é extremamente significativo e tem um simbolismo de buscar sempre superar desafios, inovar, aprender e ter um olhar positivo para o futuro. Sou grata pelos conhecimentos adquiridos, pois a universidade nos proporciona o maior instrumento de transformação social, que é o conhecimento. Tenho muito orgulho de ser egressa de uma instituição de qualidade e comprometida com a comunidade”, complementa.
Claridê também é um exemplo de mulher que luta e conquista. Tem uma trajetória pessoal e profissional sempre pautada pelas questões de gênero, especialmente para ocupação dos espaços públicos de fala e de poder. Ainda, em 2013 tornou-se a primeira mulher a presidir a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Soledade, em mais de 50 anos de fundação.
Para ela o empoderamento feminino está intrinsicamente ligado a independência financeira das mulheres e a transformações culturais que possam acabar com o abismo de oportunidades, espaços e possibilidades entre homens e mulheres. “O mês de março se reveste de suma importância para que todas as mulheres jamais esqueçam de seu compromisso de alcançar a mão umas às outras. De deixar claro que não queremos o lugar de ninguém, queremos somente o nosso espaço”, completa.
Outra força feminina, mas dentro da Unisc, é da assistente administrativa Noemia Theisen. Dos 64 anos de vida, mais da metade, 37 anos, ela dedica à Unisc. Ela começou na Assessoria Técnica da Reitoria, local que está até hoje, na época em que a Unisc era a Faculdades Integradas de Santa Cruz (Fisc).
Nesta trajetória, conseguiu concluir grau em Geografia e fazer uma especialização na área. Ainda, formou os dois filhos na universidade no curso de Engenharia de Produção. Os três netos, Otávio, de 5 anos; Isabela de 3; e Melissa, de 1; também quer que estudem na Unisc.
Para ela, estar na universidade é prazeroso. “Sempre gostei de tecnologia e consegui ver muitas mudanças aqui dentro e participei das transformações. Eu não tenho uma rotina, todos os dias são diferentes e é muito gratificante. O que puder fazer pela Unisc farei, pois a universidade é como uma mãe para mim, sou muito grata.”
Noemia começou em uma época em que eram poucas as mulheres nos cargos de chefia. “Antigamente era difícil ver essa presença das mulheres em qualquer lugar. Eu trabalhava, estudava e tinha os filhos pequenos. Foi sacrificado, mas não me arrependo de nada. Hoje, meus filhos dizem como foi bom eu ter ido buscar o meu espaço e é isso que digo hoje para as mulheres: busquem o seu espaço, não dependam de ninguém financeiramente. A mulher pode mais, busca mais, é trabalhadora. Costumo dizer que o mundo ainda vai ser dar mulheres.”
A marca da mulher na reitoria
Em 2013, a professora Carmen Lúcia de Lima Helfer foi eleita a primeira reitora da universidade. O fato histórico é para ela motivo de orgulho e de muito trabalho. Ela ingressou na Fisc em 1984 quando a Educar-se abriu as portas. Lá, foi professora dos Anos Iniciais. Com Magistério e formada em Direito pela Fisc, tem duas especializações na área da Educação.
Passou também pelo Departamento de Educação da Fisc e, em 1992, começou a dar aulas no curso de Pedagogia. Foi pró-reitora de Graduação e a primeira pró-reitora de Extensão e Relações Comunitárias. “São as trajetórias, tanto na gestão como na sala de aula, que me deram experiência prática e vivência de gestão. Não se cria um reitor. O que vale é a prática na gestão, a bagagem, o conhecimento institucional. Na época, em 2013, me candidatei e tive um apoio, uma sustentação de várias pessoas. Quem me elegeu confiou no meu trabalho”, lembra.
Ao encher o peito de orgulho para falar sobre a função que exerceu até ano passado, Carmen Lúcia atribuiu o feito como “algo forte, bonito e que muito me orgulha em ser corajosa ao fazer essa escolha que me agregou tanto. Sou honrada em fazer parte desta história.”
Às mulheres, a professora quer deixar o legado de que a classe tem capacidade de ser e fazer. “A mulher tem um olhar mais sensível, consegue olhar o conjunto das coisas. Podemos ocupar todos os lugares possíveis com energia, eficiência, pois força e coragem nós temos. Não precisamos mudar nossa essência para ocuparmos cargos, devemos diferenciar pela autenticidade e capacidade de fazer gestão. E o mais importante, estarmos em um lugar que nos faça feliz, traga bem-estar, pois o empoderamento não é algo que vem, ele é conquistado, primeiro, dentro de nós.”
História: a busca pelo direito ao voto e melhores condições de trabalho
A história mais comum sobre o Dia da Mulher bate naquela vista nas aulas de história: um incêndio em uma fábrica em Nova York, em 1911, que deixou centenas de mulheres mortas. Mas a sugestão da data, de fato, ocorreu em 1910, na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. “Independente da origem da data o que estava no contexto sempre foi as lutas pelo direito ao voto e por melhores condições de trabalho”, salienta a antropóloga, coordenadora-pedagógica do Curso de Medicina e professora do Departamento de Ciências, Humanidades e Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Paula Camboim.
Na época, as mulheres não votavam em muitos lugares, inclusive no Brasil. “Não eram consideradas cidadãs.” As condições de trabalho eram precárias, com fábricas que tinham jornadas, às vezes, de 14 horas de trabalho, em condições insalubres e salários miseráveis. “Há relatos de fábricas que trancavam as portas no expediente e impediam a saída. Havia controle de ida ao banheiro e até de relógios que eram cobertos para que não se pudesse controlar o tempo.”
Também não existiam creches, licença-maternidade e nem o direito de sair para levar o filho ao médico, por exemplo. “Os filhos acabavam tendo que acompanhar as mães e muitos deles, já com 5 ou 6 anos, eram incorporados no mundo do trabalho.”
Já por volta de 1960 ocorreu o fortalecimento do movimento feminista e a data começou a ser comemorada com mais intensidade. “Outras reivindicações começaram a aparecer como direito a sexualidade, liberdade do corpo feminino, opção por não casar. Até que em 1975 a Organização das Nações Unidas instituiu o 8 de março como Dia da Mulher.”
Segundo a professora, uma das lutas agora é pela busca de igualdade salarial, já que hoje as mulheres ainda ganham menos que os homens. “Não podemos esquecer que se o mundo mudou foi pela luta, reivindicações, embates e processos dolorosos que exigiram força e dedicação das mulheres. Ainda há injustiças. Então, é um dia ainda de reflexão e celebração para que essas questões ganhem visibilidade e sejam solucionadas. Só quando alcançarmos a igualdade, entre todas as esferas da vida, o mundo será melhor para todos.”
CRÉDITO: AI Unisc