A falta de avanço nas políticas antitabagistas ao redor do mundo vai impedir que a meta global de reduzir o consumo de cigarros, em 30% até 2025, seja atendida. Segundo a chefe do secretariado da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, Vera Luiza da Costa e Silva, a redução ficará em 22%. A afirmação foi feita em entrevista à revista Veja, na edição do dia 09 de janeiro deste ano, dois meses depois da realização da Conferência das Partes da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (COP8), em Genebra, na Suíça.
Ao lançar o que ela chama de alerta global, Vera avalia como preocupante a falta de implantação de medidas restritivas ao consumo por parte dos governos e cita África e Oriente Médio como exemplo de continentes atrasados nessa caminhada. Ao mesmo tempo ela destaca o trabalho do Brasil como exemplo. “O Brasil tem desempenho considerado extraordinário graças a uma política que não foi interrompida com a troca de governantes. Em 1989 quando teve início a batalha contra o cigarro mais de um terço dos adultos fumava e atualmente são 11%”. Ela cita como medidas importantes o veto a propaganda, advertência nos maços sobre os malefícios do cigarro, elevação de impostos e a proibição de fumar em lugares fechados.
ENTREVISTA
Ao longo das três folhas da matéria publicada nas tradicionais páginas amarelas da revista, espaço nobre em cada edição, a chefe do secretariado da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco falou sobre contrabando, lobby das indústrias e cigarro eletrônico.
Para ela, atacar o contrabando, que possibilita um produto de preço acessível e sem mensagens de alerta dos malefícios nos maços, é uma das ações mais importantes para combater o consumo brasileiro que está entre os maiores do mundo. “A cooperação entre os países é fundamental”, avalia.
Ao mesmo tempo, acusa as indústrias de se beneficiarem do mercado ilegal baseada em estudo, sem citar fonte, que aponta que 70% do mercado ilícito no mundo é impulsionado pelas indústrias.
ELETRÔNICOS
Pela primeira vez em uma entrevista, Vera reconhece que os cigarros eletrônicos produzem menos substâncias tóxicas, mas deixa claro que não há garantias que possam substituir o cigarro comum. “De fato os cigarros eletrônicos produzem menos substâncias tóxicas, não envolvem fumaça, mas não quer dizer que não façam mal.” Sua preocupação é com as crianças atraídas pelo sabor desses novos produtos que considera mais nocivos quando são a base de tabaco do que somente nicotina.
A ’xerife do fumo’, assim intitulada pela reportagem da Veja, atribui a estabilidade no número de fumantes ao aumento da população e defende que houve redução de 27%, em 2000, para 20%, em 2007. “O número de fumantes ainda é estrondoso, e tem a ver com a própria natureza humana e sua busca incessante pelo alívio das dores e pelo prazer instantâneo.”
Sua busca pela redução do tabagismo continua. “O tabaco é o único produto legal que mata a metade de seus consumidores, é preciso regulamentar mesmo para dificultar o consumo”, finaliza.