Dados do Euromonitor apontam que 5,6 trilhões de cigarros são consumidos mundialmente, o que representa uma queda de 1,8% entre 2014 e 2015. A estimativa é que 20,4% dos adultos sejam fumantes e o mercado global de cigarros movimente US$ 698,5 bilhões, sendo US$ 3,08 o custo médio do pacote de cigarros. A China representa 46% do consumo mundial de cigarros e apresentou uma queda de 2% em 2015. O mercado de cigarros chinês é 10 vezes maior que o segundo colocado, a Rússia, seguido pelos EUA, Indonésia, Japão e Turquia. Estes foram algumas das informações compartilhadas durante a Reunião das Américas promovida pela Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (International Tobacco Growers’ Association – ITGA), no auditório do Memorial da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), nesta sexta-feira, 24 de março, em Santa Cruz do Sul (RS).
Com o apoio da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) o evento reuniu representantes de produtores do Brasil, Argentina, Estados Unidos, República Dominicana e Colômbia, bem como entidades, autoridades e lideranças municipais para um ciclo de palestras sobre o setor tabaco e produtos agrícolas. A programação iniciou com a exposição do presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco) e prefeito municipal de Santa Cruz do Sul, Telmo Kirst, sobre os objetivos da entidade que reúne prefeitos da Região Sul do País. “Estamos preparando entre final de abril e início de maio uma série de encontros em Brasília que vão levar ao centro do País nossa preocupação para com o contrabando, uma das maiores preocupação do setor. Estamos convocando os quase 600 prefeitos para apoiar a nossa Associação e contaremos com a força desses municípios para mostrar que é preciso que o governo tome ações efetivas e fortes para estancarmos o problema do contrabando”, disse.
O presidente da ITGA, o americano Daniel Green, abriu as palestras falando sobre as ações da entidade. “A ITGA trabalha para manter mercados e preços estáveis e, e em nossa última reunião anual, reconhecemos uma estratégia específica: a exemplo do Brasil, precisamos implementar ações que resultem em uma produção sustentável. Estamos buscando soluções para questões desafiadoras como combater a exploração da mão-de-obra infantil e promover a educação, assim como estudar e promover alternativas de diversificação de sucesso”, afirmou.
Sobre o mercado de cigarros, ele avalia que apesar de um pequeno declínio, o mercado ainda é muito grande. “5,6 trilhões de cigarros é muita coisa e os produtores podem ficar tranquilos porque tabaco será necessário por vários anos ainda, mas claro que vemos que esforços são necessários para adequar as demandas de acordo com as necessidades do mercado”, afirma. Atualmente, 55% dos cigarros são compostos pelo chamado Virginia blend (uso exclusivo do tabaco Virginia), 37% são american blend (mistura dos tabacos tipo Virgínia e Burley) e 8% são outros tipos. O tabaco Virginia alcançou 4 bilhões de quilos no último ano e o Burley superou os 600 milhões de quilos. Segundo Green, Malaui, grande produtor do tipo Burley, terá uma queda no mercado para 2017 em comparação com 2016. “Já nos Estados Unidos, grande produtor do Virgínia, temos a expectativa de uma produção estável”, disse.
Entre os fatores a serem considerados e que podem impactar o futuro do mercado, Green citou as regulações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, a expansão dos produtos alternativos, o combate ao tabagismo e o aumento do mercado ilegal. “Um dado que nos preocupa é que 11% dos cigarros consumidos no mundo são ilegais. Ações são necessárias para combater o problema”, frisou Green. No Brasil, o mercado ilegal supera os 30%.
A demanda futura para os produtos agrícolas foi tema da palestra proferida por Valter Bianchinni, oficial Nacional de Programas da FAO – Unidade de Coordenação de Projetos para a Região Sul do Brasil. “Em nível mundial temos mais de 2,5 bilhões de grãos e 300 milhões de toneladas de carne no mundo. A estimativa é que em 2050 tenhamos 9,1 bilhões de habitantes, 34% mais que atualmente. Para alimentar essa população, a produção de alimentos precisará crescer 70%. No Brasil, de 1995 para cá triplicamos a oferta de carnes e duplicamos a produção de grãos. Nosso país é o segundo colocado no ranking do comércio agrícola, mas precisamos crescer e o desafio é crescer de forma organizada e sustentável, sendo a agricultura familiar fundamental nesse sentido, amparada sempre por uma gestão de qualidade. Temos como meta trabalhar a diversificação e, à semelhança do tabaco, construir cadeias integradas para escoar essa produção”, afirmou.
A importância da sustentabilidade na cadeia produtiva do tabaco foi destaque da fala do presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke. “Muito se investiu para que tivéssemos evolução em temas como redução no uso de agrotóxicos, uso da vestimenta de colheita, erradicação do trabalho infantil e diversificação. Em muitas destas ações contamos com a parceria da Afubra e com o trabalho dos orientadores de nossas empresas associadas, fundamentais para que a mensagem chegue ao campo”, avalia.
Segundo Schünke, essas ações têm sido reconhecidas pelos resultados alcançados. “No caso do trabalho infantil, nossas ações iniciaram em 1998. De lá para cá, segundo o IBGE de 2010, foi no tabaco o maior índice de redução de trabalho infantil (55%) em comparação com o censo do ano 2000, sendo considerado um case de sucesso pela OIT e pela CNI. No caso dos agrotóxicos, investimentos feitos pelas empresas tornaram o tabaco a cultura comercial agrícola que menos utiliza agrotóxicos segundo pesquisa da ESALQ/USP. Quando temos uma manchete negativa relacionada a trabalho infantil ou uso de agrotóxicos, não importa se é no Brasil ou em outro país, o setor todo é afetado. É preciso evoluirmos juntos nesse sentido”, ponderou, apresentando também o Instituto Crescer Legal e o Programa de Aprendizagem Profissional Rural que atualmente envolve 100 jovens aprendizes rurais, bem como a pesquisa da UFRGS que demonstrou que o produtor de tabaco tem renda superior à média brasileira, bem como uma boa qualidade de vida.
Já António Abrunhosa, diretor executivo da ITGA, falou aos presentes sobre a COP7 e perspectivas para a COP8. “A informação técnica e a experiência dos produtores de tabaco não são levadas em conta e a participação continua sendo majoritariamente de órgãos e ONGs ligadas à saúde, mesmo que as temáticas estejam indo para rumos como diversificação, quando a expertise de agropecuária é fundamental. Estávamos esperando sermos chamados, mas não só não fomos chamados como fomos proibidos de participar nas discussões”, relembra Abrunhosa. Para a COP8, a ITGA tem a expectativa que os artigos 9 e 10 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, que versam sobre os ingredientes, continue na pauta. “O grupo de trabalho dos artigos 17 e 18 que versam sobre diversificação terminou seus trabalhos na COP7, mas precisamos continuar atentos sobre o que vem por aí e que pode impactar diretamente a vida dos produtores”, ressalta.
Abrunhosa também abordou os novos produtos do tabaco, como os cigarros eletrônicos, vaporizadores e, mais recentemente, a evolução dos “Heat not Burn” (aquecido não queimado). “Aqui não estamos falando de um mercado novo, mas da adaptação de um mercado potencial. Estou convencido de que teremos outros produtos semelhantes além daqueles que já estão disponíveis muito em breve. A vantagem para o produtor é que, ao contrário do cigarro eletrônico, com o “Heat not Burn” temos uma garantia de continuidade de produção ao longo prazo, ao contrário do que vislumbrávamos três anos atrás quando tínhamos apenas o cigarro eletrônico, que utilizaria muito menos tabaco, em cena”, finalizou.
A programação seguiu na parte da tarde com a assembleia regional e os informes de cada país, num encontro fechado apenas para as delegações dos países membros da ITGA.
CRÉDITO: AI/Sinditabaco