No dia 23 de abril, o Instituto Crescer Legal completa seu terceiro ano com muito a comemorar. Para marcar o sucesso das atividades, a entidade lançou um blog que retrata a relação entre a juventude e o campo, denominador comum dos jovens aprendizes envolvidos com a entidade. “Os depoimentos apresentam singularidades e peculiaridades dentro do contexto de cada realidade. Respeitar essas diferenças e proporcionar crescimento pessoal está entre os nossos objetivos ao oferecer um curso voltado ao meio rural”, afirma o diretor presidente do Instituto, Iro Schünke.
Segundo a coordenadora do Instituto, Nádia Fengler Solf, dar voz aos jovens egressos é uma forma de valorizar suas experiências e também ouvir as demandas da juventude. “Desde o início de nossas atividades temos sido constantemente surpreendidos pela vontade de crescimento dos jovens. É muito nítido o quanto eles ainda procuram e precisam de espaços que atendam necessidades muito específicas e que ainda não estão contempladas pelas políticas públicas”, avalia.
Os depoimentos são de egressos do curso Empreendedorismo em Agricultura Polivalente – Gestão Rural e estão disponíveis em www.crescerlegal.com.br/
“Nos últimos tempos eu pude ver que o meio rural, que é onde estou inserida, é muito valioso. Comecei a refletir mais sobre o presente e o futuro e acho que posso investir mais em algo relacionado ao campo”, Edilaine Scherer, 19 anos, egressa de Candelária (RS).
“Criei, como parte da formação em um curso de gestão rural, o aplicativo ‘Feira Online Santa Cruz’ para compra e venda de produtos alimentícios. Pensei no aplicativo como mais uma forma de a informática auxiliar a atividade rural”, Cássio Roesch, 18 anos, egresso de Santa Cruz do Sul (RS).
“Como meus pais são pequenos produtores rurais e trabalham na lavoura, eu achava que a propriedades era apenas algo de onde tiravam o sustento. Quando comecei a fazer uma tabela com os bens rurais, fui me surpreendendo e percebi que o que temos vale muito”, Maira Bugs, 17 anos, egressa de Vera Cruz (RS).
“Quando me foi solicitado fazer um projeto direcionado à gestão rural, sentei com meus pais para pensar na nossa realidade e o que poderia ser feito para melhorar. Depois de analisar o que tínhamos em recursos ambientais e possibilidades de investimento, criei o ‘Despesca Alto da Serra’. Como já tínhamos o açude, pensei em ampliar a produção de peixes e colocar também para venda”, Jéssica Voeltz, 17, anos, egressa de Vale do Sol (RS).
“Quando foi solicitado, no curso de aprendizagem profissional, que fizéssemos um projeto para a propriedade rural, eu e minha família construímos, com canos de PVC pretos e garrafas pet pintadas de preto, um sistema de aquecimento solar. Devemos reciclar e usar adequadamente os recursos disponíveis. É preciso pensar para frente, não adianta a gente pensar só no agora”, Micaela Reginatto, egressa de Venâncio Aires (RS).
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O pioneirismo de ser jovem aprendiz no campo
Os adolescentes que participam do Programa de Aprendizagem Profissional Rural são contratados como aprendizes por indústrias associadas ao Instituto, e recebem remuneração e certificação de acordo com a Lei de Aprendizagem (Lei 10.097/2000 e Dec. 5598/2005). No entanto, eles não realizam qualquer atividade nas empresas. Toda a carga horária é cumprida no âmbito do curso de formação, tanto na instituição parceira, junto à família, na comunidade, como em viagens pedagógicas e visitas técnicas.
O curso tem duração de um ano, com 4 horas diárias de segunda a sexta-feira, totalizando 920 horas de atividades teóricas e práticas em gestão. No programa das atividades consta o estudo e análise das propriedades rurais, diagnóstico do município e da região com estudos dos arranjos produtivos locais e mapeamento das parcerias locais e alianças estratégicas. Os adolescentes também desenvolvem trabalhos em grupo envolvendo as famílias e a comunidade e estudos de viabilidade de desenvolvimento de produtos de gestão no meio rural.
O Programa de Aprendizagem Profissional Rural foi ampliado em 2018 de cinco para sete municípios gaúchos. Atualmente, cerca de 140 jovens de Boqueirão do Leão, Candelária, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol, Venâncio Aires e Vera Cruz participam das atividades do curso que em 2017 formou 84 jovens em Candelária, Santa Cruz do Sul, Vale do Sol, Venâncio Aires e Vera Cruz. Com idades entre 14 e 17 anos, os jovens foram selecionados entre as famílias de produtores e trabalhadores rurais com o auxílio dos orientadores e instrutores das empresas associadas ao Instituto Crescer Legal, além das escolas e rede de assistência social.
Inovação no combate ao trabalho infantil
Iniciativa do SindiTabaco e suas empresas associadas, o Instituto Crescer Legal tomou forma com o apoio e adesão de pessoas envolvidas com a educação e com o combate ao trabalho infantil, em especial em áreas com plantio de tabaco, na Região Sul do País. A meta: oferecer subsídios para que o jovem permaneça e se desenvolva no meio rural e, ao mesmo tempo, combater o trabalho infantil no campo.
Segundo Schünke, que também é presidente do SindiTabaco, a fórmula do sucesso do Instituto se deve em muito à experiência adquirida pelo setor do tabaco que em 2018 completa 20 anos de ações voltadas à proteção da criança e do adolescente. “Combater o trabalho infantil nos aproximou dos problemas enfrentados pelos adolescentes no meio rural. A falta de escolas e de educação voltada para a realidade do campo estão entre elas. Nossa entidade vem para se somar a outras ações nesse sentido, mas inova ao proporcionar ao jovem um curso de gestão com rendimentos mensais. Ao mesmo tempo em que se aprimora, o jovem repensa suas oportunidades na propriedade e fica longe de trabalhos impróprios para sua idade, tendo uma fonte de renda própria”, afirma.
A voz feminina do campo
Promover a igualdade de gênero também está entre os objetivos do Instituto. Em 2017, um grupo de 13 egressas do Programa de Aprendizagem de Vera Cruz e Candelária (RS) participaram do projeto Nós por Elas – A voz feminina do campo, realizado em parceria com o curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Vera Cruz. Após prepararem conteúdos e entrevistas sobre temas como o papel da mulher na sociedade, trabalho infantil e violência contra mulher, o material foi compilado e transformado em programas de rádio e conteúdo para a internet (ouça aqui). As participantes receberam bolsa de estudos do Instituto Crescer Legal. Uma nova edição do projeto deve acontecer no segundo semestre de 2018. Saiba mais em www.crescerlegal.com.br.