Com a chegada e popularização dos serviços streaming, a próxima geração provavelmente não saberá o que eram as videolocadoras. Segundo dados da União Brasileira de Vídeo (UBV), havia cerca de 14 mil videolocadoras no Brasil em 2004. Em 2009, esse número caiu para 6 mil. Atualmente, são menos de 4 mil locadoras em todo o país. Em Venâncio o número de estabelecimentos diminuiu de maneira significativa.
Lúcia do Amaral, proprietária da Vídeo & Mania, atuante há 18 anos em Venâncio Aires, começou quando a locação de filmes era novidade. Segundo ela, não foi só a pirataria que atrapalhou o negócio das videolocadoras. A TV por assinatura mais barata e a Internet rápida também afastaram os clientes. “Ficou muito mais fácil para os assinantes. Não precisam se preocupar com o prazo de entrega dos filmes para não pagarem multa, por exemplo”, explica.
Clientes
A cliente assídua Mônica da Cruz conta que sempre teve o costume de locar filme e mantém o hábito até hoje. Para ela, o contato direto com as obras supera a facilidade dos serviços. “Apesar de todos os serviços streaming, nem sempre os ‘lançamentos’ estão disponíveis em um tempo considerável. Além disso, por mais facilidades que eles forneçam, também é um serviço que reforça a solidão, porque tu acaba assistindo no celular, sozinha, no quarto. Já o alugar um filme, envolve muito mais. Envolve o contato com as pessoas da locadora, a procura pelo filme, a troca olho a olho de opiniões e aqui em casa gera ainda mais união, todo mundo na sala, junto, assistindo aos filmes”, revela.
Assim como Mônica, Andreia Halmenschlager compartilha da opinião da falta de lançamentos nas plataformas digitais. “Alugo na locadora ainda pois o catálogo de filmes da Netflix tem uma renovação muito vaga, assim sempre posso assistir aos filmes que são lançamentos”, conta.
Os filmes podem servir tanto para entretenimento quanto para aprendizado e formas de ensino. A professora Luce Carmen Mayer faz a locação de filmes para uso na escola. “Frequentemente retiro filmes para trabalhar com os alunos da oficina do turno integral”, relata. Para ela, a falta de lançamento nos catálogos da Netflix também é um problema e conta que por ela, o mercado de videolocadoras não se extingue. “Têm filmes que não encontro no YouTube ou Netflix e sim nas locadoras”, conta. “Se depender de mim, as locadoras não acabam”, diz.
Será o fim?
Alugar um filme em VHS era considerado quase um ritual até o fim da década de 2000, quando surgiu a Internet e a pirataria. Hoje, há milhares de sites com títulos disponíveis para downloads ilegalmente, mas a lei 10.695/03 (artigos 184 e 186) do Código Penal estabelece que a reprodução ou distribuição ilegal de músicas, vídeos, livros, obras de arte ou programas de computador, inclusive por meio da Internet, com a finalidade de lucro, prevê pena de dois a quatro anos, além de multa. No ano de 2016, o Brasil ficou em 4º lugar no ranking dos países que mais baixaram filmes ilegalmente, foram 8,7 milhões de downloads, segundo a Mark Monitor.
Para Mônica, o fim dos estabelecimentos não é uma opção. “Com a chegada dos serviços de streaming e as facilidades da internet, a procura por videolocadoras diminuiu muito e isso é perceptível pra mim que sou apenas cliente. Acredito que a tendência é ocorrer uma diminuição ainda maior, mas não a extinção completa do serviço, uma vez que muitas pessoas não possuem os serviços de streaming e recorrem aos locadoras para assistirem filmes ou, até mesmo, buscam essa opção como forma de economizar, já que, infelizmente, não temos cinema em nossa cidade”, diz.
Já Andreia acha que esse segmento está com os dias contados. “Acredito que não se sustentará, pois é cada vez mais frequente o uso da internet para acesso a filmes e séries, muitas pessoas preferem assistir filmes em sites piratas de má qualidade do que deixarem seu dinheiro nas locadoras”, expõe.
Lúcia está ciente de que o fim do estabelecimento está próximo e, pensando nisso, adicionou uma variedade de produtos à venda, como chocolates, pipocas e refrigerantes. “Não quero o fim da Vídeo & Mania quero que continue funcionando, nem que seja para fazer a venda de alimentos que possam acompanhar um filme. Eu não quero fechar as portas. Não sei fazer outra coisa. Eu nasci para isso”, desabafa.
*Camila Weschenfelder
Estagiária e estudante de Jornalismo – Univates