“O objetivo da comunidade do controle do tabaco não é reduzir doenças. O seu objetivo é uma sociedade livre de nicotina. Isso é totalmente inaceitável”. A afirmação é do ex-diretor de Política de Pesquisa e Cooperação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a resistência na adoção da redução de danos no tabaco e no reconhecimento dos novos produtos com este objetivo. O professor atuou nesta função em Genebra, Suíça, durante 13 anos, no período de 1999 a 2012.
Antes disso, o reconhecido internacionalmente como especialista em saúde pública foi codiretor do Centro Colaborador da OMS para Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue na Universidade da Malásia (1982-1995). PhD em Imunologia-Microbiologia pela Australian National University, é membro do Royal College of Pathologists (Reino Unido) e demais academias renomadas nos EUA e Malásia. Atualmente é presidente do Conselho de Administração da Asia Pacific Leaders Malaria Alliance (APLMA) e copresidente da Asia Pacific Immunization Coalition (APIC).
Seu nome ficou amplamente conhecido, também no Brasil, como referência durante a pandemia de Covid. Uma de suas análises na época já apontava que o vírus se tornaria endêmico e a humanidade possivelmente teria que conviver com sua existência contínua, como outros vírus, como o H1N1 ou a gripe suína.
Em entrevista ao Olá Jornal durante o Fórum Global de Nicotina (GFN), em Varsóvia, Polônia, classificou o tabagismo como uma emergência de saúde e traçou um paralelo com o Covid em relação as evidências. “Durante o Covid, depois de seis meses, as vacinas estavam disponíveis. Essas eram vacinas completamente novas, baseadas em uma tecnologia completamente nova, o mRNA. Havia muitas incertezas sobre a segurança e a eficiência. A OMS, disse que porque era uma emergência de saúde pública e as pessoas estavam morrendo, ok, nós tomamos um risco e autorizamos. Lembrem-se, eles deram licença de emergência para usar esses vacinas. Então eles fizeram a coisa certa. Era uma emergência de saúde pública, a evidência não estava completa, e ainda assim eles já viram que poderia funcionar. Então eles tomaram a decisão certa. Por que eles não podem fazer o mesmo para a redução do tabaco?,” reforça.
EVIDÊNCIAS
O especialista considera que diferente da vacina do Covid na época, os novos produtos possuem evidências robustas sobre sua contribuição para reduzir danos do tabaco. “Eles olham apenas as evidências que suportam a posição deles e ignoram todas as outras evidências. Como nos últimos relatórios da OMS sobre controle de tobaco nem mencionaram a revisão do Cochrane [rede global independente de pesquisadores]. Eu sou um cientista, não tenho dúvida que a redução do dano da tabaco é potencialmente um benefício da saúde pública, e ainda não se menciona. Então é uma escolha de evidências que correspondem à sua posição”, avalia.
Tikki ainda defende a participação da indústria no processo de ampliar a redução de danos. “Você não pode mudar isso sem a ajuda da indústria. Não é justo sempre culpar as empresas de tabaco. Olhem-as como parte da solução. E isso não está acontecendo por causa da ideologia, da emoção”. Nesta perspectiva questiona a não aceitação de pesquisas da indústria do tabaco como ocorre na indústria farmacêutica. “Não há problema com a indústria farmacêutica, com HIV, com vacinas. Não há problema com a OMS. Então por que há problema com a redução do dano do tabaco?,“ questiona.
Para o professor, o tema não avança por questões subjetivas. “É uma posição ideológica. Não é uma decisão baseada em evidências de saúde pública. É uma posição de escolha de evidências”, conclui.