Cláudia Tajes: a humildade e doçura de quem começa sempre de novo

Olá Jornal
setembro08/ 2018

Recomeçar é para poucos. Partir do zero como se fosse a primeira vez, despir-se principalmente dos sucessos para seguir em frente, é o que permite novos acertos e também novos erros. É dizer pra si mesmo ‘bom, eu não sei nada mas preciso começar e seja o que Deus que quiser’. É o que faz quem caminha prestar mais atenção a jornada e não ignorar nada. É para poucos, pois a bagagem do que já foi feito dá segurança mas também impede novos olhares. É para poucos. É para Cláudia Tajes, que assim o é para muitos.

“Minhas idéias são como o meu dinheiro, eu gasto tudo tenho que sempre estar começando de novo. Não tenho banco de idéias, cada semana eu começo tudo de novo. E já tô sofrendo pra semana que vem”, revelou a escritora durante sua passagem pela Feira do Livro de Venâncio Aires no último sábado, 1º. A abordagem da autora, roteirista e colunista do jornal Zero Hora, sobre a sua prática de escrita, evidencia o seu sucesso entre os leitores.

A forma humana e sincera que falou sobre si mesma tocou o público que assistiu ao bate-papo e mostrou mais uma vez que o escritor é uma pessoa como qualquer outra, que precisa cumprir prazos e também sofre com a expectativa do resultado. “Eu nunca tenho nada pronto, eu entrego tudo na última hora.”

DILEMAS
A autora tem como preferência em seus livros temas poucos recorrentes no mundo literário como raiva, vida sexual da mulher feia e vingança, entre outros assuntos tão recorrentes no convívio humano. No entanto, ela questiona-se se esse ainda é o caminho a seguir. “Hoje em dia eu acho que os meus temas não pegam mais bem no mundo. Falar sobre por exemplo uma mulher que muda de personalidade por um homem, acontece…quem nunca, mas não é mais a hora de falar”. A autora afirma que o lugar de fala, tão popularizado atualmente, limita a sua produção. “O famoso lugar de fala acho que acabou com a espontaneidade da gente de maneira geral. Só quem está autorizado a falar é quem passou por aquilo, a empatia e a tua vontade de falar sobre aquele problema não basta, então está complicado.”

Da mesma forma, a linha editorial dos veículos e a segmentação dos públicos, algo questionado por ela, também a impede de falar tanto sobre o que gostaria. “Eu escrevo numa revista feminina, embora eu ache que nos dias de hoje isso não exista mais, muitos assuntos meus são vetados na revista porque não são do interesse daquele público”.

LEITURA
Cláudia defende que uma boa escrita e boas ideias dependem da leitura, seja ela qual for. O que importa é ler, abastecer-se de conhecimento e de referências para não ficar repetindo bobagens da internet. “Se está lendo tá bem. Acho que a internet deu uma quebrada nessa cadeia, […] além de muita bobagem é muita má influência política.” Ela ainda chama atenção para o politicamente correto que está acabando com as boas referências literárias, como por exemplo Rubem Fonseca, considerado machista devido as suas obras. “Acho que os temas dele não são considerados politicamente adequados ele é chamado de machista mas é um autor que escreve muito bem e continuo gostando dele.”

FUTURO
Os próximos trabalhos serão um livro que virará filme e um livro de crônicas. As duas obras estão previstas para este ano ainda e, mesmo assim com a encomenda das editoras avalizando o seu sucesso, ela ainda tem dúvidas. “Eu não acho que minhas crônicas são tão boas assim para serem colocadas em um livro.” A humildade é para poucos.

O FÃ E SEU ÍDOLO

Em um mundo cada vez mais tomado pelo ódio nas redes sociais virtuais ou não, o carinho de um leitor vale muito. A coordenadora pedagógica do Município, Alice Theis, realizou-se ao ficar cara a cara com o seu ídolo. A leitora voraz de Cláudia Tajes a esperava há meses, desde o anúncio de sua participação na Feira. E a manifestação não poderia ser outra: de amor. “Toda vez que te leio, eu penso vou mandar um e-mail pra ela. De como achei legal, de como me identifico mas daí penso, é muito invasivo e não mando. Mas muitas vezes os comentários positivos se furtam e os raivosos não se furtam. Mas acredito que neste universo tem mais pessoas que apreciam.”

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