A médica do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), Tânia Cavalcante, vê a possibilidade de regulação dos cigarros eletrônicos no Brasil apenas para casos onde o fumante não consegue deixar de fumar, depois de já ter passado por tratamento. Em entrevista ao Olá Jornal, após a primeira audiência pública para debater a liberação de novos produtos, ocorrida em Brasília, uma das principais lideranças no trabalho de combate ao tabagismo no país considerou esta a única possibilidade, mas com cautela.
O modelo seria o que não leva tabaco mas nicotina líquida analisado, segundo ela, em um dos primeiros estudos a respeito que mostrou ter menos substâncias tóxicas que o tradicional. Ainda assim, tratam-se de modelos específicos estudados, não a todos os disponíveis no mercado atualmente. “Mas a gente não tem nem certeza, é plausibilidade. Eu não posso dizer que ele vai reduzir risco, ele pode reduzir dano daquele efeito da fumaça. Porque eu não tenho o alcatrão, não tenho o monóxido de carbono”, explica.
Essa seria uma alternativa para os casos onde a terapia de reposição de nicotina não está funcionando. “Você vai deixar o cara fumando um negócio que é altamente tóxico que mata, a gente sabe, ou um que talvez tenha menos toxicidade? Então a única situação que poderia ter, pra mim como Tânia, pessoa que até fez um estudo, meu doutorado foi nessa área, seria esse segmento que não consegue deixar de fumar que poderia ter uma regulamentação”.
DANO
Tânia afirma que o termo redução de danos refere-se apenas quando um fumante não consegue deixar de fumar e acusa a indústria de utilizar a denominação indevidamente. “A gente vê estratégias se apropriando desse texto mas quando você olha a prática vê um caminho de um dano coletivo, estão querendo ampliar um grande mercado de dependentes de nicotina. Eles estão vendendo nicotina, na verdade estamos falando de troca de dispositivos de liberação de nicotina”.
CERTEZA
As comprovações científicas sobre a toxicidade são colocadas pela secretária-executiva da Conicq como fundamentais nessa discussão. Reconhecendo que a elaboração dessas pesquisas levam tempo, ela recomenda a utilização de dados produzidos por outros países. “A gente pode ver se esses países produziram dados que podem nos orientar. A gente precisa ter uma certeza, temos que ter critérios, se for mudado, que a Anvisa precisa seguir para poder dizer esse é aceitável e ter estratégias que limitem esse produto para o fumante que não pode, não quer parar de fumar”.
DILEMA
A grande preocupação das entidades que defendem a manutenção da proibição pela Anvisa está no comportamento do mercado e da indústria caso fosse regulamentado. O interesse dos jovens pela apresentação moderna e sem as características do cigarro convencional, como cheiro da fumaça, é uma delas. “Como fazer se for mudar essa política de forma a restringir esse consumo? É uma pergunta que tem que ser discutida. Como é o comportamento das empresas? Você vai abrir mercado para uma intenção que não é o que é dito, então é um dilema”, conclui.