A bandeira vermelha 2 deve vigorar até o fim deste ano, diante da situação hídrica desfavorável pela qual passa o país, de acordo com analistas ouvidos pelo “Estadão/Broadcast”. A expectativa é que esse quadro melhore um pouco até o início de 2018, mas talvez não o suficiente para alterar o patamar de 2 para vermelha 1. Mesmo assim, os especialistas afirmam que boa parte da pressão inflacionária por conta da alteração para a bandeira vermelha 2 deve ficar concentrada em 2017, já que o impacto só é percebido quando se muda a cor.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu na sexta-feira passada manter o segundo nível da bandeira vermelha nas contas de luz em novembro. Com isso, os consumidores terão taxa extra de R$ 5,00 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Até outubro, a bandeira vermelha 2 adicionava R$ 3,50 a cada 100 kWh, mas a Aneel revisou os valores e a metodologia do sistema.
A partir de agora, além do preço da energia no mercado à vista, o sistema passa a considerar também o nível dos reservatórios das usinas, que estão em patamar crítico pelo prolongamento da estiagem no País.
O impacto esperado pelos economistas do aumento do custo da bandeira vermelha 2 no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro é de até 0,12 ponto porcentual. Caso ocorra a mudança de bandeira 2 para a bandeira 1 no início do ano que vem, o alívio no IPCA deve ser de até 0,13 ponto porcentual, já que o patamar 1 adiciona R$ 3,00 a cada 100 kWh usados. Por enquanto, as expectativas dos analistas consultados estão pouco acima de 3% para a inflação de 2017 e de até 4% para 2018.
Adaptação Os analistas afirmam que ainda terão de se adaptar à nova metodologia da Aneel para modificar as estimativas em relação a bandeira tarifária. Contudo, afirmam que a mudança anunciada pela agência evita sinais contraditórios em relação a eventuais modificações nas bandeiras.
Na estimativa de Tiago Souza, analista do Banco BBM, a bandeira vermelha 2 deve continuar até o fim deste ano, mas depois deve cair para nível 1. “Esperamos que o regime de chuvas ajude.” Porém, pondera que é preciso aguardar para saber de fato como se dará a mudança feita pela Aneel, que agora levará também em consideração o nível dos reservatórios.
Com a adoção da bandeira vermelha 2 em novembro, o Banco BBM estima inflação em torno de 0,50% no mês. A expectativa da instituição é que o IPCA encerre este ano em 3,10% e vá a 3,90% em 2018.
Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, está um pouco mais pessimista, porque acredita na manutenção da bandeira vermelha 2 até fevereiro do ano que vem, imaginando que o governo deverá ser prudente. Segundo ele, a mudança para o patamar 1 viria somente em março. “Mesmo com esse sobrepreço, a arrecadação ainda não está acontecendo. Pode ser que nem tão cedo saia desse patamar. Os reservatórios estão em nível baixo, e isso sinaliza manutenção da vermelha 2.”
Romão ressalta que uma eventual alteração de bandeira vermelha 2 para 1 em 2018 traria impacto negativo no IPCA de cerca de 0,10 ponto porcentual. Por ora, o economista estima que a inflação poderá fechar o próximo ano em 4,30%, ante projeção de 3,30% para 2017.
Na mesma direção, o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal, prevê que a bandeira vermelha vai vigorar até o fim do primeiro trimestre do ano que vem. “O máximo que pode acontecer no início de 2018 é retornar à vermelha 1”, sustenta ele, que elevou a projeção de IPCA do ano de 3,2% para 3,3% depois da mudança metodológica da Aneel.