Especialistas globais em tabagismo e redução de danos enviam mensagem ao Brasil pela regulamentação dos cigarros eletrônicos, durante o maior evento sobre o tema. Em entrevista ao Olá Jornal durante o 11º Fórum Global de Nicotina (GFN), realizado de 13 a 15 de junho em Varsóvia, capital da Polônia, autoridades no assunto de diferentes países encorajaram o país a aprovar os novos produtos de consumo de nicotina.
Um deles é o professor adjunto da Faculdade de Direito e presidente do conselho consultivo do Centro de Legislação, Política e Ética em Saúde da Universidade de Ottawa, Canadá, David Sweanor. “A proibição do vapor é a proibição de produtos legais que podem ser regulados. Os produtos de vapor ainda estão lá. E enquanto o Paraguai está perto do Brasil, você ainda vai ter muitos produtos vindo, como ocorre em outras categorias. O que o governo fez foi dar a capacidade de regulamentar o mercado, proteger os consumidores e ajudar as pessoas a sair dos cigarros, que é o que os consumidores querem fazer. Então eu acho que é realmente contra-produtivo”.
Trabalhando a nível mundial com numerosos grupos, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Banco Mundial e a Organização Pan-Americana da Saúde, na obtenção de precedentes globais na política do tabaco, o especialista prevê que o Brasil poderá ficar para trás, assim como alguns ficaram em epidemias como a pólio e HIV. “Como a África do Sul com a doença do HIV. Eles tinham um governo que fazia coisas muito estúpidas que causavam que mais pessoas morressem. Eles sabiam, naquela época, que a ciência era real. E eles não fizeram isso, estão embaraçados. Mais pessoas morreram. Não era necessário. Eles poderiam ter sido racionais. E o que as pessoas no futuro olharão e dirão, é claro, isso é o que deveriam ter feito”.
Para o defensor da reforma das políticas de drogas nos Estados Unidos e no exterior, Ethan Nadelmann, o recado para o Brasil é que siga a ciência. “A primeira coisa é seguir a ciência. A segunda é perceber que a nicotina, é viciante mas não mata as pessoas, não causa câncer. O desvio para o Brasil e outros países que se opõem à redução do dano do tabaco é que eles estão permitindo que as pessoas morram e os governos estão efetivamente matando-as prematuramente ao invés de abraçar a ciência.”
A coordenadora executiva da Coalizão de Defensores da Redução de Danos ao Tabaco da Ásia-Pacífico (CAPHRA), Nancy Loucas, aponta a ilegalidade como resultado da proibição. “Por que você faria isso, se você sabe que está falhando e a maioria das pessoas estão comprando no mercado ilegal, você está perdendo renda, está colocando o público em risco. E se você está preocupado com jovens, o mercado ilegal não se importa com restrições de idade. Então, descubra qual é a sua prioridade. Se é a saúde pública e outro fluxo de renda, o passo lógico é regular. Controle, renda e as pessoas que precisam terão acesso e escolha”.
Os novos produtos estão proibidos no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009 e foi mantida em nova decisão em abril deste ano.