O Brasil virou o jogo do contrabando de cigarros com o fechamento da fronteira com o Paraguai durante a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). A marca histórica caiu de 57% para 51% durante o período. A pesquisa feita pela Kantar Worldpanel confirma que o maior concorrente da indústria de tabaco no país é o mercado ilegal.
Assim avalia o diretor financeiro da BAT Brasil, Ricardo Guia. “O fechamento da fronteira, durante a pandemia da Covid-19, confirmou ser esta a principal porta de entrada do produto ilegal no Brasil. Porém, essa situação é pontual e foge ao controle da empresa, podendo ser revertida à medida que a normalização das atividades econômicas ocorra”, avalia.
O levantamento ainda aponta como motivadores da queda o fechamento de fábricas no Paraguai, aumento dos custos de produção em função da valorização do dólar e consequentemente a elevação do seu preço de venda, além do aumento do volume de apreensões de cigarros contrabandeados pelas autoridades policiais. Guia lembra que a pesquisa avaliou apenas a comercialização e entrada do produto de origem ilegal no país e que não há informações sobre aumento de consumo no período da pandemia.
ALÉM DAS FRONTEIRAS
Apesar do indicativo, o diretor financeiro afirma que o controle das fronteiras é um importante caminho para a redução do contrabando e da criminalidade no país, mas não o único. Ele ressalta a necessidade do governo avaliar soluções que permitam que a indústria legal tenha competitividade frente ao mercado ilegal, situação essa agravada pela diferença de taxações.
Enquanto o produto nacional sofre com uma carga tributária de 71%, o Paraguai usufrui da diferença tributária, cuja taxação do produto é de 18%. “Os altos impostos levam a uma competição desleal pelo consumidor brasileiro, pois enquanto os produtos ilegais são vendidos a preços entre R$ 3,00 e R$ 4,00, os da indústria nacional devem seguir o preço mínimo de venda permitido pela Receita Federal, que é de R$ 5,00”, explica.
NA FÁBRICA
De acordo com Guia, a BAT Brasil conseguiu manter suas operações funcionando normalmente em quase todo o período da pandemia, com exceção das semanas em que as usinas de Santa Cruz do Sul e Rio Negro ficaram fechadas. A fábrica de Uberlândia (MG), a área de logística da companhia, que engloba 36 centros de distribuição, além da parte administrativa ficaram ativas durante todo o tempo de isolamento. Neste período, a BAT Brasil priorizou a segurança e saúde dos colaboradores, adotando todas as normas de saúde preconizadas pela OMS, e afastou, temporariamente, cerca de 500 funcionários do grupo de risco, contratando outras pessoas, sem prejuízo à operação.
SURPRESA
A diminuição da ilegalidade também refletiu historicamente no desempenho de vendas da companhia. Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente da BAT Brasil, Jorge Irribarra, afirmou que pela primeira vez em dez anos, as vendas de cigarros da empresa devem crescer no país. Uma alta de 4% frente a 2019, atingindo 40 bilhões de unidades (em 2019 eram 38,4 bilhões). “O resultado de 2020 está completamente fora de qualquer prognóstico”, ressaltou Irribarra.