Principal atividade econômica do município, o setor do tabaco é reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como modelo na erradicação do trabalho infantil no meio rural. O trabalho iniciado há 20 anos, completos no ano passado, rendeu ao setor o maior índice de redução do trabalho infantil no Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, comparado ao penúltimo censo, realizado no ano 2000.
Naquela década, o setor reduziu em 58% o índice de trabalho infantil na cadeia produtiva do tabaco no Rio Grande do Sul, ao passo que a área produzida dobrou nesse período. O resultado é expressivo se comparado ao de outras culturas agrícolas e à média nacional de redução de 10% no trabalho infantil.
ESFORÇO
De acordo com o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, esses resultados advêm de um trabalho de conscientização ímpar. Além da orientação aos produtores fornecida pela assistência técnica gratuita e campanhas de mídia, desde 2009, Ciclos de Conscientização sobre saúde e segurança do produtor e proteção da criança e do adolescente são realizados anualmente em municípios produtores de tabaco. Já são 25 mil participantes (a grande maioria produtores rurais) em 60 eventos. O setor ainda é o único, organizado na agricultura, a exigir o comprovante de matrícula de filhos dos agricultores em idade escolar e o atestado de frequência para a renovação do contrato comercial existente entre empresas e produtores dentro do Sistema Integrado de Produção de Tabaco.
Ao mesmo tempo, Schünke afirma que o trabalho infantil é um tema complexo e permanente, no campo e na cidade, sendo a questão cultural o principal desafio na área rural. “Nesses anos realizando os seminários, percebemos uma grande ansiedade por parte dos produtores sobre o que fazer com os filhos que concluíam o Ensino Fundamental. A escassez de escolas rurais é um grande problema no campo e, junto com as drogas e ociosidade, acabam contribuindo para uma postura cultural de valorização do trabalho e incentivando crianças e adolescentes a atividades inapropriadas para sua idade”, avalia.
CAMINHO
Para o presidente do SindiTabaco, são necessárias políticas públicas para fortalecer as escolas no meio rural, buscando alternativas para os jovens de até 18 anos. Uma delas foi encontrada pelo próprio setor em 2015 quando fundou o Instituto Crescer Legal, uma iniciativa do sindicato e empresas associadas, com o apoio e adesão de pessoas físicas e entidades envolvidas com a educação e com o combate ao trabalho infantil, em especial em áreas com plantio de tabaco, na Região Sul do País. De lá pra cá, o Instituto formou 204 jovens no curso “Empreendedorismo em Agricultura Polivalente – Gestão Rural” do Programa de Aprendizagem Profissional Rural. Em 2019, mais 136 meninos e meninas entre 14 e 17 anos, de sete municípios gaúchos, foram contratados via Lei da Aprendizagem.
Diferente do que acontece na cidade, ao invés de trabalharem na empresa contratante, se reúnem diariamente no contraturno escolar para falar sobre e vivenciar práticas de gestão rural e empreendedorismo. Os encontros iniciaram em março e seguem até o final do ano em Boqueirão do Leão, Cerro Branco, Herveiras, Passo do Sobrado, Sinimbu, Vale do Sol e Vera Cruz. “Uma forma de proporcionar aos jovens rurais alternativas para a escassez de oportunidades no campo”, conclui Schünke.