Em semana decisiva no STF, Michel Temer viaja ao Exterior

Guilherme Siebeneichler
junho19/ 2017

Após reagir à entrevista de Joesley Batista com ameaça de processos nas esferas cível e criminal, o presidente Michel Temer embarca nesta segunda-feira para a Rússia em meio a uma semana decisiva da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente chega a Moscou terça-feira, mesmo dia em que a primeira turma da Corte estará julgando o pedido de prisão do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). No dia seguinte, enquanto Temer se reúne com o presidente Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, o plenário da Corte decide sobre uma eventual revisão do acordo de delação premiada dos donos da JBS. As informações são de Zero Hora.

É a primeira incursão internacional do presidente desde o agravamento da crise, em 17 de maio, quando veio à tona a gravação da conversa com Joesley no Palácio do Jaburu. Nesse período, ele esteve apenas em São Paulo e fez uma rápida viagem para verificar o efeito da chuva em Alagoas e Pernambuco. Na maior parte do tempo, o presidente permaneceu em Brasília, tentando reagir à sucessão de denúncias e às prisões de aliados, como o ex-auxiliares Rodrigo Rocha Loures, Tadeu Filipelli e Henrique Eduardo Alves.

Na sexta-feira, assessores chegaram a sugerir o cancelamento da ida à Rússia, após a divulgação da entrevista de Joesley à revista Época. O Planalto reagiu com extensa nota oficial e a agenda foi mantida. A partir de quinta-feira, o presidente estará na Noruega, onde será recebido na capital Oslo pelo rei Harald V e pela primeira-ministra Erna Solberg. A volta ao Brasil está prevista para sexta-feira.

Com Temer fora do país, assume a Presidência o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A viagem coincide com a semana de festas juninas no Nordeste, período em que o Congresso vive um recesso branco para que os parlamentares possam participar dos festejos em suas bases eleitorais. Como os deputados e senadores estarão longe de Brasília, as repercussões da crise ocorrem no STF.

Além da eventual prisão de Aécio e da análise dos termos negociados na colaborações premiadas dos executivos da JBS, o STF também irá decidir se o ministro Edson Fachin continua à frente do inquérito contra Temer. A condução das investigações foi questionada pelo governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), também alvo das delações. Nas últimas semanas, aliados de Temer no Congresso têm trabalhado para desestabilizar Fachin e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Um mudança no acordo com a JBS fragilizaria a posição de Janot. Na próxima semana, ele deve apresentar ao STF denúncia contra Temer por corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça. O pedido de abertura de ação penal deve tramitar ainda por 20 dias na Corte antes de ser enviado à Câmara, onde são necessários os votos de 342 deputados para o presidente virar réu, o que o afastaria automaticamente do cargo por um período de 180 dias. Para evitar que isso ocorra, o Planalto tem reconstruído sua base de apoio na Casa e já distribuiu R$ 1 bilhão em emendas parlamentares.

AGENDA DA CRISE
Segunda-feira

O presidente Michel Temer embarca às 11h para a Rússia, onde chega apenas na terça-feira.

Terça-feira
Primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga o pedido de prisão do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

Quarta-feira
Plenário do STF decide sobre eventual revisão do acordo de delação premiada da JBS e permanência do ministro Edson Fachin à frente do inquérito contra Michel Temer.

Guilherme Siebeneichler