Urgência deve ser o primeiro ponto da reforma trabalhista discutido no Senado

Janine Niedermeyer
abril28/ 2017

A reforma trabalhista aprovada pela Câmara dos Deputados na última quarta-feira (26) ainda não chegou ao Senado, mas a sua tramitação já é alvo de debates entre os parlamentares. Enquanto a oposição cobra uma análise cuidadosa do tema, com a participação de várias comissões e mudanças no texto, a base do governo defende rapidez na tramitação pela importância das medidas previstas pelo projeto.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) afirma que já espera um pedido de urgência para o projeto da parte da base do governo, e antecipou que essa iniciativa encontrará resistência. “Eu espero que esse seja o primeiro ponto que nós devemos enfrentar. Não é admissível, não só em nome dos direitos dos trabalhadores, mas do próprio país, que uma matéria dessa monta tramite em regime de urgência”.

A proposta de reforma, encaminhada pelo Executivo no final de 2016, altera diversos pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ela promove mudanças como a prevalência de decisões tomadas em negociações coletivas sobre a legislação, o fim do imposto sindical obrigatório, e a regulamentação do trabalho intermitente (por hora) e do trabalho à distância.

Apesar da posição contrária à reforma, membros da oposição reconhecem ser preciso atualizar as regras trabalhistas. No entanto, eles reivindicam que os trabalhadores não percam direitos adquiridos e nem a proteção da CLT. É o que afirma o senador Jorge Viana (PT-AC).

“Temos, sim, que fazer atualização da legislação trabalhista, fazer com que haja mais facilitação para empregar, e não destruir o direito mínimo. Não podemos pegar um momento como este, em que a economia do Brasil está fragilizada, e simplesmente fazer um desmonte de toda uma conquista”.

Os oposicionistas têm o apoio do líder do partido do presidente da República, Michel Temer, no Senado. Renan Calheiros (AL), que lidera a bancada do PMDB, também quer que o assunto seja tratado “com muita deliberação” e “sem fazer ouvidos moucos à sociedade”. Ele fala, inclusive, em mudanças no texto aprovado pelos deputados.

“Eu acho que o Senado precisa ter serenidade. É muito importante atualizar leis, mas outra coisa é fazer um desmonte de direitos de trabalhadores conquistados ao longo de muitos anos. Não acredito que a reforma passe aqui no Senado Federal da forma que vem da Câmara dos Deputados. Não acredito que ela chegue aqui sem consultar opiniões”.

Rejeição

Parte da oposição, no entanto, fala em rejeitar completamente a proposta. É o caso do senador Humberto Costa (PT-PE), que considera a iniciativa “o enterro da CLT” e afirma que muitas das alterações foram propostas diretamente por entidades patronais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para o senador, a reforma trabalhista é uma das consequências do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, decidido pelo Senado em agosto de 2016.

“As manifestações de rua do ano passado contra a presidenta Dilma e contra o PT, das quais participaram milhões de brasileiros que estavam praticamente cegos e desavisados, foram a maior mobilização que trabalhadores realizaram contra si mesmos em toda a história do nosso país”.

A senadora Regina Sousa (PT-PI) diz que a reforma coloca os trabalhadores em posição de fragilidade diante dos empregadores. Segundo ela, com o desemprego em alta, eles não terão poder de barganha para negociar melhores condições de trabalho. E, ser as propostas da reforma de Temer entrarem em vigor, não terão mais as garantias da CLT.

“Boa parte dos patrões neste país ainda tem a mentalidade do século XVI. Eles vão tratar bem trabalhador depois que tiverem toda a abertura para fazerem o que quiserem? A CLT não é o fetiche dos trabalhadores, mas ela garante o mínimo de dignidade, e agora eles não vão mais ter”.

Fonte: Agência Senado

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Janine Niedermeyer