Um papo com um jovem ‘senhor’ do Metal

Janine Niedermeyer
outubro22/ 2016

Poucas cidades, mais precisamente Porto Alegre, Pelotas, Bento Gonçalves e Venâncio Aires, tiveram as ilustres visitas de dois experts da bateria e do rock durante a semana. No último dia 20, a casa de eventos London 1158 sediou um workshop na presença de Eloy Casagrande, da banda Sepultura – um dos grupos de metal brasileiro mais internacionais – e de Eduardo Baldo, da Hibria, banda gaúcha com mais de 20 anos de estrada.

Nesta edição você confere um papo com Eloy, paulista de 25 anos de idade, com cinco anos de Sepultura e que desde os sete estuda bateria. Na próxima edição do Olá iremos reproduzir a conversa feita também com Baldo.

Casagrande fala na entrevista exclusiva para o jornal, sobre o novo disco da banda, que vem em 2017, a força do rock/metal no Brasil, a visibilidade que teve com as aparições na TV Globo ainda na adolescência e o que devem fazer aqueles que esperam torna-se bateristas.

Olá Jornal – Qual tem sido o significado para ti, há cinco anos fazer parte de uma banda com mais de 30 anos de história?
Eloy Casagrande – É uma honra fazer parte do Sepultura, uma banda tão importante pra história do metal, do rock mundial, um ícone brasileiro e uma banda muito conhecida lá fora. Eu já era fã da banda antes de fazer parte dela e qual músico brasileiro não conhece Sepultura? Então tocar com os caras é um prazer e uma grande responsabilidade, de substituir outros grandes músicos também, que já passaram pela banda. É uma experiência com certeza excelente e não poderia ser melhor.

A participação em diversas edições no quadro “Se Vira nos 30” do programa Domingão do Faustão te ajudou a ganhar visibilidade, além da dedicação e o talento?
Com certeza. O lance do Faustão, de eu ter participado na mídia, foi uma forma de ter acesso a grande massa, de se tornar conhecido realmente. Eu lembro que tinha 11 pra 12 anos quando fui pela primeira vez no quadro e ganhei.
Pra quem não se lembra, foi no lance da mini bateria, em miniatura, que ligamos um módulo eletrônico nela que simulava um som de bateria. Aquilo realmente foi uma forma de entrar na mídia, um chamariz, algo diferente pra se fazer. Aos poucos eu fui colocando o meu instrumento, a bateria de verdade, sendo convidado para outros programas, na Record, SBT e outras emissoras.
O Faustão sempre foi um cara que me chamou pra ir lá, me dando muita força e só tenho a agradecer por tudo que ele fez e abrir esse espaço a um músico de metal. Eu até voltei lá no fim do ano passado, então é uma mídia excelente.

Como veio o convite para fazer parte do Sepultura?
Eu toquei no Rock in Rio em 2011 com o Gloria, que era a banda que eu fazia parte anteriormente e eles me assistiram tocando lá e me convidaram pra fazer um teste, pois o batera da época estava saindo, o Jean (Dolabella), e fui fazer um teste na sequência do Rock in Rio. Até antes disso, eu estava no grupo do André Matos, e um produtor da banda Sepultura me viu tocando no Faustão e me indicou pra fazer o teste.

E como é já ser um ‘senhor’ do Metal mesmo ainda tão jovem? Tem muita estrada pela frente ainda?
Com certeza, mas é pelo lance de eu ter começado já com 16 anos a tocar com o André Matos, sou muito grato a todos que confiaram em um baterista jovem. Entrei no Sepultura com 20 anos. Mas como estudei a vida inteira bateria, tocando desde os sete anos de idade, é uma vida dedicada ao instrumento, com muito amor no que faço, então não tem como dar errado, quando a gente tem amor no que faz.

A banda prepara o lançamento de um álbum novo em 2017, que foi produzido fora do Brasil?
Isso, a gente gravou o disco em maio deste ano e o disco vai ser lançado em janeiro do ano que vem. Foi um disco gravado na Suécia, com o produtor Jens Bogren, que já faz todas as bandas lá do metal nórdico, um cara bem conhecido e atingimos um nível de produção muito bom e um dos melhores que o Sepultura já teve. Estamos muito felizes com o resultado e mal podemos esperar para que o disco saia e ouçamos as críticas, pois queremos saber o que os fãs vão falar disso, mas a expectativa é a melhor possível.

E o que dá pra adiantar do disco em si, quantas faixas?
Bah, não posso falar nada do disco ainda, mas acho que dentro de duas semanas a gente vai anunciar o nome do álbum, mas o disco está vindo com tudo, isso posso adiantar.

Em workshops como este em Venâncio Aires, o que tu procura passar para outras pessoas, do que já aprendeu? E também essa questão de coordenação motora do corpo, que é fundamental para tocar bateria?
Nestes workshops a gente não discute apenas técnica. Muita gente acha que é só um lance técnico de falar sobre bateria, mas a gente fala de forma geral sobre música, mercado do metal, do rock, então é uma troca. Além de tocar, abrimos para perguntas e em cada lugar acabamos abordando algo diferente.
No lance da coordenação, pois é, acho que é algo que se precisa ter um pouco pra tocar bateria. Até acho que precisa menos que tocar piano, por exemplo, que se usa todos os dedos da mão. Então não é só específico para bateria em si.

Tu que circula por todo Brasil, qual região acreditas que o rock tenha mais força hoje em dia?
Acho que em todas as regiões está bem legal. Todos os lugares do mundo tem fã de metal, do rock. É um fã muito fiel, que compra CD, conhece os integrantes da banda. Então qualquer lugar que você for tocar, qualquer buraco que for inventar de tocar, vai ter fã de metal. No Brasil eu vejo um crescimento do nosso setor, pois a gente tem feito vários festivais em vários cantos do país, nordeste, centro-oeste, aqui mesmo no sul se fazem muitos festivais, então vejo um crescimento muito excelente.

Pra fechar e para aqueles que não puderam participar do workshop, qual a principal orientação que tu deixa, especialmente aos que querem aprender bateria?
A principal dica, eu acho, é você criar um estilo. Você ser você, acho que é o principal. Com esse lance da internet, da facilidade do acesso a conteúdos diferentes a galera meio que se perde, às vezes se baseando muito em um músico, uma referência e as pessoas esquecem de serem elas mesmas. Então o melhor é você procurar a sua identidade, sua característica e saber o melhor que você quer passar para as pessoas.

Foto: Dedé Mendonça/ Divulgação

Janine Niedermeyer