Thedy Correa compartilha felicidade e seus conceitos

Janine Niedermeyer
maio24/ 2017

O músico da banda de rock gaúcho Nenhum de Nós voltou a ‘bater ponto’ em Venâncio Aires. Thedy Correa que vem ao município uma vez por ano desde 2014, esteve participando no sábado, 20, da 56ª Conferência da Felicidade do Rotary Distrito 4680. O vocalista e também escritor palestrou para rotarianos e comunidade em geral, na Sociedade Olímpica Venâncio Aires (Sova).

Thedy Correa abordou o tema “O impacto da música na vida das pessoas”, onde mostrou experiências vividades pela própria banda, com relatos de fãs. Dentre elas, sobre a música “Camila”, que alerta sobre a violência sexual.

Uma carta recebida de uma menina de 12 anos de idade durante um show do grupo em Caxias do Sul é uma das marcas, onde a garota conta sobre a perda dos pai aos 8 anos e quando foi morar com a mãe na casa do novo namorado. A partir de então o padrasto começou a abusar dela. “Ela passou a sofrer preconceito de outras pessoas e ficar reclusa em casa, quando nos relatou que o único amigo dela nesse período era a banda Nenhum de Nós, pois as letras conversavam com ela”.

Junto a outros exemplos, Thedy Correa mostrou a importância de que as músicas façam sentido para as pessoas. “Hoje a música brasileira está devendo nisso. O artista tem que fazer pensar”. Em entrevista ao Olá Jornal, o músico porto-alegrense destacou seus conceitos sobre felicidade, esse impacto da música sobre as pessoas, realidade política atual no Brasil e seus projetos com a banda e individuais.

Olá Jornal – O que é felicidade do teu ponto de vista?
Thedy Correa – A felicidade é quando tu consegue atingir alguma coisa que tu se propõe a fazer ou que tu se propõe a obter e o resultado supera positivamente. Assim como a gente não passa a maior parte do tempo triste, a gente não passa a maior parte do tempo feliz, mas a gente persegue a felicidade e não a tristeza. A família é algo que me deixa muito feliz, a proximidade com ela, o carinho. O reconhecimento me deixa feliz também, do trabalho e não de ser reconhecido na rua.

O que tu acha que falta para as pessoas hoje em relação a busca da felicidade?
Tem uma questão que é fundamental, pois a sociedade em que a gente vive, ela associa felicidade a bens materiais. Não que eu seja um cara de espírito elevado. Aprecio a filosofia budista no sentido de que as coisas que valem a pena na vida elas não são coisas que a gente compre. Não são bens que a gente adquire.
As pessoas precisam ter noção de que o que importa são coisas que a gente atinge sem gastar nenhum centavo, mas apenas com a nossa dedicação ao espírito, as boas ações, construir um equilíbrio. São coisas que devemos fazer sem depender dos bens materiais. Se tiver que corremos atrás do dinheiro e bens materiais a nossa felicidade é uma felicidade falsa.

Qual tua visão como músico/artista, do que hoje a gente vive no nosso país?
Eu acho que houve uma ruptura democrática e os acontecimentos da última semana provam isso, onde a vontade do povo, ela de alguma maneira, sofreu um desvio de caminho e isso a gente vê no tipo de interesse que motivavam as pessoas que estão hoje sendo reveladas, como pessoas que até então se julgavam honestas e que são o mais detestável tipo de político. É aquele que não busca o bem do cidadão, da sociedade e que busca se lucropretar com o dinheiro público e benefícios.
O Brasil ele está passando por um momento muito delicado em relação a ruptura desse tecido democrático e também dessa reconstrução da autoestima. Acho que devemos ter uma lição muito séria e importante em relação a isso. Quando se fala ‘ah, todos os políticos são iguas’. Não, nem todo político é igual, nem todo taxista é igual, nem todo médico é igual. E se a gente vê coisas que a gente condena nos políticos, a gente precisa olhar ao redor e nós como cidadãos podemos estar fazendo as mesmas coisas e detestáveis, tipo a questão do leite e da carne, que não tinha nenhum político envolvido. Então precisamos olhar para sociedade de maneira muito crítica. O Brasil precisa fazer essa autocrítica e se dar conta que os políticos são um extrato da sociedade que a gente construiu.

Tu prevê dias melhores? Acha que vamos crescer com isso como nação?
Se a gente nesse momento não lutar pra que volte pra mão do povo essa capacidade de decidir, as coisas não vão andar bem. A gente viu o que é nossa Câmara dos Deputados. Aquela vez que teve a votação do impeachment foi um espetáculo grotesco. Todo mundo concorda com isso. Pessoas que hoje se sabe que receberam dinheiro pra votar como votaram, então a gente tem que pensar que o voto ainda é nossa única arma e ferramenta pra manter a sociedade sadia e votar melhor pra não colocar lá pessoas que não pensem no bem comum.

Como a arte no meio desse contexto pode colaborar e como ser fazedor de arte no meio desse contexto?
Acho que a arte tem que sempre lutar pela liberdade, pela reflexão e pela consciência. A liberdade de escolher. Se tu vai votar no Bolsonaro tu tem que ter essa liberdade, se tu vai votar no Jean Wyllys tu tem que ter essa liberdade. O artista tem que lutar pra que essa liberdade seja preservada, mas a consciência é fundamental e saber que depois que tu escolhe e vota, tu também é responsável pelo que vai acontecer.

E a banda Nenhum de Nós, como estão os trabalhos, a estrada, o que se pode esperar?
Estamos ainda comemorando os 30 anos, lançamos a biografia, lançamos um vinho do Nenhum de Nós, camiseta comemorativa, os quatro primeiros discos lançamos no serviço de streaming e a gente ainda vai fazer coisas pra manter esse cunho comemorativo dos 30 anos.

E os projetos do Thedy?
Sai livro novo ainda esse ano, até outubro, em parceria com Renato Guedes que é um artista plástico e sempre seguindo firme pela causa da leitura, que na minha maneira de ver é a única ferramenta que não existe discussão, no sentido de que qualifica o cidadão.

Foto: Maicon Nieland/ Olá Jornal

Janine Niedermeyer