Responsabilização e qualidade dos testes rápidos leva farmácias a não realizar exames

Olá Jornal
abril29/ 2020

A responsabilização de profissionais e estabelecimentos aliada à preocupação com a qualidade dos exames tem levado as farmácias de Venâncio Aires a optarem por não realizar os testes rápidos de anticorpos para o novo Coronavírus (Covid-19). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de testes rápidos em farmácias, no entanto, ainda depende de publicação de uma Resolução da Diretoria Colegiada no Diário Oficial da União para passar a valer.

Além de uma série de exigências para que a farmácia faça os testes, entre elas o cuidado de usar todos os Equipamento de Proteção Individual (EPIs), o profissional farmacêutico é responsável pelo resultado do exame bem como o estabelecimento que aplicou. O resultado precisa ser informado aos sistemas de notificação, embora não sejam contabilizados em estatísticas. Ao mesmo tempo, a qualidade dos testes rápidos ainda é uma preocupação.

Um dos proprietários de farmácia consultados, Edson Bayard, explica que por enquanto a decisão de não realizar os testes leva em conta a segurança dos profissionais, do consumidor e ainda a confiabilidade dos exames. “Farmacêuticos e farmácias terão que assumir a responsabilidade e sabemos a complexidade que envolve. Acredito que esse é um papel dos órgãos públicos, de quem está na linha de frente. Também é preciso evitar que o estabelecimento seja ponto de contágio, pois muitas pessoas podem procurar os testes”, avalia.

PRECAUÇÃO

A doutora em biologia celular e molecular da Unisc, Andréia Rosane de Moura Valim, explica que o receio das farmácias em aplicar os testes é compreensível dada a responsabilidade sobre esta informação. Se houver um erro de interpretação, na leitura ou aplicação a responsabilidade é desse profissional. “Existe sim um receio das farmácias em assumir essa responsabilidade que é uma responsabilidade muito grande que é melhor distribuída na atenção à saúde pelos laboratórios de análises clínicas, locais mais adequados para realização de qualquer teste diagnóstico”, afirma a professora que também é diretora de inovação da universidade.

A especialista esclarece que os testes podem apresentar falsos negativos, que se referem a especificidade, ou falsos positivos, que se referem a sensibilidade. “Os falsos positivos podem acontecer sim. A maior parte dos testes tem reação cruzada com uma série de outros vírus, então se o resultado for positivo não necessariamente significa que é o SARS-COV-2, pode ser outros vírus como o Influenza, ou outros”. Ela complementa que a própria bula do teste indica que quando der teste positivo pode ter reatividade cruzada. A questão da especificidade, os falsos negativos, também pode estar acontecendo.

QUALIDADE

Apesar de compreender a intenção da Anvisa e do governo em dar mais acesso à população, um dos argumentos para liberar os testes para as farmácias, Andréia chama a atenção também dos consumidores para a qualidade dos exames. “Existem muitos testes por aí e nem sempre são bons, não têm um valor especificado de sensibilidade e especificidade e em quantas pessoas foi testado para valer como um teste comercial”.

Ela ainda orienta os profissionais da área. “Minha maior preocupação em relação aos meus colegas farmacêuticos é que avaliem muito bem se realmente têm condições de biossegurança no estabelecimento em que está trabalhando, avalie muito bem se os EPIs estão disponíveis para que se tenha segurança e, principalmente, avaliem muito bem a qualidade dos testes imunológicos, existe uma diversidade de testes nem todos apresentam uma boa sensibilidade e especificidade ou até relatam mas testaram em seis ou sete, poucas pessoas, o que dá uma garantia baixa para esses testes”, finaliza.

SAIBA MAIS

A medida não será obrigatória para todos os estabelecimentos, mas os que aderirem deverão adotar as diretrizes, protocolos e orientações estabelecidas pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde, tais como:

I – seguir as Boas Práticas Farmacêuticas, nos termos da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44, de 17 de agosto de 2009;

II – ser realizada por farmacêutico treinado;

III – utilizar os dispositivos devidamente regularizados junto à Anvisa;

IV – garantir registro e rastreabilidade dos resultados; e

V – delimitar fluxo de pessoal e áreas de atendimento, espera e pagamento diferentes para os usuários que buscam os serviços de teste rápido em relação aos que buscam os outros serviços na farmácia.

Testes rápidos

Esse termo vem sendo usado popularmente para os testes imunocromatográficos para anticorpos (IgM e IgG), indicados para exames a partir de sete dias após o início dos sintomas. São dispositivos de uso profissional, de fácil execução, que não necessitam de outros equipamentos de apoio (como os que são usados em laboratórios) e que conseguem dar resultados entre 10 e 30 minutos.

O diagnóstico de Covid-19 não deve ser feito por uma avaliação isolada dos resultados dos testes rápidos. No estágio inicial da infecção, falsos negativos são esperados, em razão da ausência ou de baixos níveis dos anticorpos e dos antígenos de Sars-CoV-2 na amostra. E o resultado do teste positivo indica a presença de anticorpos contra o Sars-CoV-2, o que significa que houve exposição ao vírus, não sendo possível definir apenas pelo resultado do teste se há ou não infecção ativa no momento da testagem.

Esses resultados devem ser interpretados por um profissional de saúde, considerando informações clínicas, sinais e sintomas do paciente, além de outros exames. Somente com esse conjunto de dados é possível fazer a avaliação e o diagnóstico ou descarte da doença. Ou seja, o teste rápido fornece parte das informações que vão determinar o diagnóstico da Covid-19.

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