Pessoas têm mais valor que coisas: a inquietação que revolucionou a Mercur

Olá Jornal
junho29/ 2019

Há 10 anos uma inquietação pela valorização da vida direciona os caminhos a serem trilhados pela empresa santa-cruzense Mercur. Gerada pela pergunta ‘se sua organização desaparecesse hoje o que o mundo perderia?’, essa inquietação é o que move a empresa de 95 anos a fazer diferente, a abrir mão de receitas e posicionar-se frente aos desafios globais que exigem ações locais como redução de emissão de gases poluentes, diminuição da concentração de renda que aumenta as diferenças sociais, combate à miséria e os demais 17 Objetivos para Transformar o Nosso Mundo listados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Os primeiros posicionamentos que marcaram esse novo momento foram o corte da linha de produtos Disney, que na época representava cerca de 12% do faturamento, e a suspensão do projeto de fabricação de uma esteira atóxica para os setores fumageiro e de alimentos, que recém havia sido lançada. “Entendeu-se que a fabricação de produtos com personagens da Disney gerava competição entre crianças, aumentava as diferenças sociais entre os que poderiam comprar e os que não teriam condições. Não queremos ‘bater a carteira do consumidor’ num país onde a educação é fragilizada”, explica o engenheiro Eduardo Assman, com 18 anos de casa e responsável pela área de impactos da atividade.

Naquele momento a Mercur deixava claro o seu posicionamento em considerar o socioambiental com o mesmo peso do econômico-financeiro e passaria a perseguir esse objetivo. Em torno de 10 grupos formados pelos funcionários com o auxílio de uma consultoria começaram a estudar e despertar o olhar das pessoas para o que envolve a empresa como água, por exemplo. “Usamos muita água em nossos processos e não pensamos que é uma responsabilidade nossa, mas quando falta em casa nos damos conta disso”, exemplifica Assman.

AMBIENTE
A priorização do uso de insumos renováveis nas operações, a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa e a compensação das que não puderem ser evitadas são máximas da empresa. Um exemplo é a borracha Lado B, que foi desenvolvida a partir da substituição de cargas minerais por cinza da casca de arroz, queimada para a geração de energia. A Mercur faz o inventário de emissões de gases desde 2009, e suas ações a partir disso, que incluem ainda mais duas etapas, de redução e compensação, tornam-a uma empresa Carbono Neutro. Já foram plantadas 30 mil árvores desde então.

PESSOAS
O novo modelo trouxe transformações internas também impactantes, com uma perspectiva horizontal como base da gestão de pessoas. Para garantir que todos sejam ouvidos nas decisões da empresa, há um modelo de gestão por colegiados, baseado em construções coletivas, em que todos se reúnem para dialogar. Este modelo transformou as relações tradicionais de subordinação em relações de parceria e cooperação e incentivou a criação de inovações.
Além disso, a redução da diferença entre o menor e o maior salário e a redução da carga horária com impacto na manutenção dos níveis de emprego foram medidas que marcaram o novo momento. Desde 2016, a empresa não tem expediente nas sextas-feiras à tarde, o que garantiu na época a manutenção de 40 trabalhadores num ano de inflação que chegava a 11%.

FUTURO
O caminho escolhido pelo facilitador da empresa, Jorge Hoelzel Neto, ruma o ano de 2050. Sua visão de Mercur para lá é de uma organização comprometida com a construção de relacionamentos que valorizam a vida, a partir de iniciativas locais de bem-estar. E são os passos de hoje, na 3ª geração, com 630 funcionários, 700 produtos, duas plantas industriais e faturamento de R$ 125 milhões, que desenham o alcançar desta meta. “Buscamos o que é Bom para todos e para a empresa. Dá para fazer exercitando a confiança uns nos outros. O modelo tradicional está com os dias contados”, afirma Assman.

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