Mês para refletir sobre a prevenção ao suicídio

Guilherme Siebeneichler
setembro01/ 2021

Os cuidados com a saúde mental ganham destaque em tempos de pandemia. O Setembro Amarelo vem para colocar luz nestas discussões e ampliar o tema da prevenção ao suícidio. Em Venâncio Aires um trabalho iniciado ainda em 2020 busca ampliar e melhorar a rede de apoio às pessoas que precisam de acolhimento quanto a este tema, e tem garantido bons resultados. Desde 2019 os números de suicídios no município estão em redução e o trabalho conjunto entre rede pública e sociedade precisa ser ampliado para garantir suporte a quem precise.

Na Capital do Chimarrão desde 2019 está formalizado o Comitê Municipal de Prevenção dos Suicídios. O grupo lidera as discussões e programas públicos sobre o tema, e busca alinhar na cidade uma rede de apoio. Parte dos trabalhos estão ligados ao projeto “Saúde Mental em foco: Acolher é Prevenir’’, iniciado no fim do ano passado, após contratação de empresa que está elaborando cartilha com os fluxos da rede para atender pessoas que precisam de ajuda. Os caminhos de suporte são apontados pela coordenadora do Comitê Municipal, Patrícia Antoni, como fundamentais para evitar os casos de suicídios.

“O programa já se reuniu com profissionais de saúde, na rede municipal, Samu, Bombeiros, Assistência Social, segurança pública, profissionais de Educação e hospital. Todos estes setores receberam orientações para ajudar a identificar os sinais de pessoas que precisam de ajuda no âmbito de saúde mental. Este trabalho é fundamental para colaborar no fortalecimento da rede de apoio em saúde mental,” explica.

Além dos setores de saúde e educação, o trabalho também foi direcionado para representantes sindicais e líderes religiosos com objetivo de orientá-los para identificação de pessoas que necessitam de ajuda e encaminhamento das mesmas à rede de saúde. “A sociedade como um todo possui preconceitos sobre este tema, é importante saber identificar os sinais de pessoas que precisam de suporte,” destaca Patrícia.

CARTILHA
O projeto formaliza uma cartilha para padronizar os fluxos de atendimentos, a partir dos primeiros sinais identificados, seja em escolas, postos de saúde ou nos serviços de urgência e emergência. A ideia é consolidar na cidade os atendimentos em saúde mental, com foco na diminuição dos casos registrados em Venâncio Aires.

MULTIFATORIAL
Atualmente o comitê afirma que as doenças mentais, que podem levar à violência interpessoal, são ligadas à multifatores. Além dos aspectos emocionais, há também questões sociais, econômicas e de interferências, que podem desencadear pensamentos suicidas. “Por isso é importante todos estarem atentos as frases de alertas, evidências, que possam colaborar no apoio e direcionamento para profissionais da área de saúde mental,” afirma Patrícia.

REDUÇÃO
Venâncio Aires tem conseguido reduzir os registros de suicídios. Até o dia 30 de agosto o serviço de Informações de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul aponta 10 registros deste tipo. Em 2020 foram 14, e 2019 teve o maior número em 10 anos, totalizando 27 casos. Até o momento, a cidade registrou 51 notificações de lesões autoprovocadas. Já em 2020 foram 94 e no ano anterior, em 2019 foram 110 registros do tipo.

“Esperamos que daqui há 10 anos possamos divulgar números muito melhores, a partir do trabalho iniciado no último ano, criando uma rede de apoio e atendimento para pessoas que precisam de apoio nas questões de em saúde mental,” conclui Patrícia.

PANDEMIA
A professora Edna Linhares Garcia, docente dos programas de pós-graduação Mestrado Profissional em Psicologia e Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde da Unisc, destaca o papel fundamental da sociedade em se envolver na rede de proteção à saúde mental. “É preciso entender os sinais, que são muitos, para evitar casos de suicídio. Este tema precisa ser pensado em sociedade, precisa ser trabalhado e incluído na rede de atendimentos, a exemplo do que está sendo proposto em Venâncio.“

A docente afirma que o momento de retorno às atividades após o isolamento causado pela pandemia, vai exigir um novo olhar para a saúde mental. “A retomada do convívio em grupo exigirá diálogo e apoio. Precisamos aprender a entender os sentimentos das pessoas. O assunto vai ganhar os debates da sociedade, e sensibilizar para este novo momento,” afirma Edna.

Além da rede de suporte, na região está em funcionamento o projeto Vale a Vida, organizado pelos pesquisadores da Unisc, Univates e Uergs. O sistema online garante atendimento psicológico para moradores dos Vales, de forma gratuita.

Guilherme Siebeneichler