Cigarro legal não vai ganhar do ilegal em guerra de preço, afirma economista

Olá Jornal
abril17/ 2021

Reduzir preço para competir com o contrabando é quase um suicídio para o cigarro legal. É o que defende o economista da RC Consultores, Marcel Caparoz, que acompanha o setor desde 2019 e que em 2020 debruçou-se sobre o cenário atípico criado pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19).

Dados apurados durante o período de fechamento de fronteiras, para impedir a cirulação do vírus, apontam que o preço do cigarro ilegal subiu 17%, favorecendo o mercado formal. Além disso, houve crescimento de 13% do mercado legal o que aponta a substituição da oferta do produto contrabandeado.

De acordo com o economista, está mais do que provado que o caminho a seguir é o controle de fronteiras. Do contrário, baixar preço impactará na cadeia geral de preços da indústria formal, reduzindo a arrecadação fiscal em R$ 3,16 bilhões, e da própria empresa, e principalmente, provocará a reação do mercado informal com redução de preço ainda maior. “Em guerra de preço com o cigarro ilegal, a gente não tem como ganhar. Eles têm capacidade de diminuir esse preço até a ponto de estrangular a produção local. Numa guerra de preço, a gente já entra perdendo porque não vão deixar tomar o mercado deles. Vira uma ciranda negativa que vai impactar todo mundo. É quase um suicídio entrar para competir,” afirma em entrevista ao Olá Jornal.

Olá – O mercado nacional de cigarros aumentou em 7,5% a arrecadação do IPI durante a pandemia. Qual a relevância do setor em divisas para o país?
Caparoz – Ele tem uma relevância, tem uma importância para as contas públicas não é só no governo federal, estamos falando de uma arrecadação total que no ano de 2018/19 chegou a R$ 15 bilhões, então tem uma relevância muito forte. Quando você divide, fica para o federal R$ 6 bilhões, estadual mais R$ 6 bilhões e para os outros que são municípios e alguns fundos, que também recebem uma parte, ficam mais R$ 3,2 bilhões. Acaba sendo relevante não apenas para um órgão, que é o federal, mas para estados e municípios. Se você considerar que estamos para romper o teto dos gastos públicos, na ordem de R$ 30 bilhões, ou seja, só o cigarro já é R$ 15 bilhões. Ninguém está disposto a perder R$ 15 bilhões num ambiente onde o governo federal, não conseguiu fazer o Censo por falta de recursos. Nesse ambiente de crise você perder qualquer centavo em qualquer imposto nesses setores, para a Receita Federal é praticamente um cenário que eles não trabalham.

Conforme dados da indústria, o mercado ilegal perdeu R$ 1 bilhão. Como governo e sociedade devem olhar para isso?
O combate ao cigarro ilegal vai se dar basicamente no aumento da repressão, da inteligência, do controle, eventualmente com parcerias internacionais. Sabemos da dificuldade que é tratar com governos que têm outros interesses, mas o caminho continua sendo reforçar essas parcerias com polícias, parcerias público-privadas no auxílio de tornar mais eficiente essa repressão. Não é um caminho mágico. É um processo que precisa começar o quanto antes colhendo os resultados com o tempo. Quando você tenta simplesmente combater um problema dessa magnitude com alguma solução mágica, geralmente vai dar errado. Temos vários exemplos na economia que uma boa intenção, mudando uma variável que você não tem o controle, claramente depois de um certo tempo o próprio mercado se reajusta e inviabiliza. Nós sabemos que controlar preços geralmente gera fracasso, seja na gasolina, na energia elétrica, acabamos gerando outros problemas e é o caso do cigarro. Como se de fato o cigarro ilegal ficasse quieto.

Qual o impacto da perda de renda do consumidor, com a pandemia, no aumento do consumo de produtos contrabandeados?
O último dado do IBGE mostra que o número de desocupados aumentou em 8,5 milhões. A conclusão é que a massa de salário das pessoas como um todo está diminuindo, com menos renda e com mais inflação. As famílias brasileiras vão ter que tomar decisões. Primeiro, não comprar determinado produto, outros que não conseguem parar de consumir, vão ter que substituir. Naturalmente, vai encontrar legal para o legal com preços menores mas também vai conseguir em alguns setores a oferta de produtos ilegais a preços mais baixos. Muito provavelmente você tem um movimento onde as pessoas buscarão um produto mais barato em produtos ilegais. A consequência disso está relacionada a saúde, a arrecadação, a geração de emprego.

FOTO: Divulgação/Arquivo Pessoal

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