Barrados na Índia, jornalistas internacionais pedem mais transparência na COP7

Guilherme Siebeneichler
novembro09/ 2016

Novamente a Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco demostra total desrespeito com a opinião pública. Logo no primeiro dia de discussões, com sugestão da Tailândia, todos os 181 países acataram a decisão de realizar os debates de forma restrita, sem a presença do público ou imprensa. O fato não é novidade entre as edições da conferência, porém, com mais jornalistas acompanhando as discussões, a expectativa era de manter o trabalho dos comunicadores. A decisão choca, especialmente por ser um evento realizado pela Organização Mundial da Saúde, braço da ONU.

CRÍTICAS

A expulsão dos jornalistas motivou uma rede contrária à COP7. Membros da imprensa mundial que acompanham o evento questionam tal decisão e acusam a organização de censurar a mídia. O jornalista americano, Drew Johnson, que também fez a cobertura da COP6 na Rússia, tentou assistir a reunião plenária. Teve a sua credencial retirada e foi expulso do local do evento. Ele já havia questionado, em 2014, a necessidade das reuniões serem restritas e desde então cobrava mais transparência da organização. Entre os pontos de questionamento é o investimento feito para realizar a conferência, já que são recursos dos países membros e dos contribuintes destas nações.

CHINA

O maior consumidor e produtor de tabaco no mundo, em seu relato inicial na primeira sessão da Conferência das Partes, nesta segunda-feira, 7, se posicionou em defesa da produção. A delegação chinesa destacou que enquanto houver consumo o país vai continuar produzindo. Além disso, afirmou que políticas de diversificação não podem ser implantadas da noite para o dia, porque isso coloca em risco a sobrevivência de milhares de chineses. A China argumentou ainda que pretende continuar trabalhando medidas para o controle do tabagismo, porém tais ações não podem ser impostas aos países e os governos não devem ser pressionados para que coloquem em prática as recomendações do tratado.

CHOQUE CULTURAL

A Índia possui demandas por investimentos públicos em diversos setores. Um deles é o da saúde pública. O investimento de U$ 4 milhões para realizar esta edição da COP em Nova Delhi é alvo de criticas, especialmente em um país que 500 milhões de pessoas defecam ao ar livre, causando a proliferação de doenças. Sem contar no trânsito, caótico e chocante para os estrangeiros, onde 15 pessoas morrem por hora nas rodovias estradas do país. Os assuntos são colocados no debate por também envolverem a Organização Mundial da Saúde.

Apesar dos deficiências, a Índia tem seus encantos, a população, mantém o otimismo e busca garantir a sobrevivência, além das cores e tradições de milênios que compõe a cultura e a religiosidade deste grande país.

DESAFIOS

A Índia tem papel de destaque na indústria de alta tecnologia e farmacêutica. Porém, assim como em países da América Latina, a situação energética da nação indiana não anda lá essas coisas. Isso porque, a matriz é o carvão, altamente poluente e com unidades geradores construídas na década de 1960/1970. Apesar do investimentos no setor, com novas hidrelétricas e fontes alternativas, são comuns os “apagões”. A delegação do Brasil já enfrentou pelo menos dois períodos de escuridão, breves, porque os hotéis possuem geradores. Recentemente o governo indiano anunciou acordos de cooperação com a Rússia para a construção de novas unidades geradoras de energia para suprir a sua demanda de crescimento econômico que chega aos 6% por ano.

Guilherme Siebeneichler